quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Baleias em Santa Catarina

Baleia Jubarte
Estamos saindo da estação mais fria do ano na região sul do Brasil. Nessa época as águas do Oceano Atlântico Sul estão com sua temperatura mais baixa o que provoca marés irregulares e elevadas. A elevação e alteração no perfil e gabarito das marés também são influenciados pelos ventos mais intensos nessa época, tudo motivado pelo esfriamento e consequente aquecimento posterior das imensas massas de água que banham a costa brasileira.
Essa alteração térmica das águas tem um interessante efeito colateral que é o aparecimento de baleias perto da costa e muitas vezes bem próximo a linha de arrebentação nas praias.  Na região compreendida entre o estado do Rio Grande do Sul até o sul da Bahia durante os meses de julho a novembro é bastante comum avistar cetáceos (baleias) em baías e estuários. Baleias NÃO SÃO peixes mas sim mamíferos sendo que os filhotes chegam a consumir aproximadamente de 200 até 400 litros de leite por dia, conforme a espécie.
São quatro os tipos de cetáceos que visitam a costa sul brasileira;  as baleias Franca (Eubalaena australis),  a baleia Jubarte (Megaptera novaeangliae), a Baleia de Bryde (Balaenoptera brydei) e finalmente a Baleia Minke (Balaenoptera acutorostrata).  A Baleia Franca é avistada sempre mais na região costeira sul do Brasil até o estado do Paraná. A Baleia Jubarte pode ocorrer até o estado da Bahia. Essas duas primeiras fazem seus deslocamentos vindas da Antártida com o objetivo principal de reprodução e crescimento dos filhotes em águas com temperaturas mais amenas.  Já as baleias de Bryde e Minke ocorrem em águas mais próximas a linha do Equador podendo deslocar-se mais ao sul chegando aos estados do sul do Brasil mas com menor intensidade.

Baleia Franca
A Baleia Franca mais comum ao sul tem aproximadamente 15 m de comprimento quando adultas e 4 m de comprimento dos filhotes menores. O peso adulto pode variar de 50 a 80 toneladas com expectativa de vida ao redor dos 70 anos. Alimenta-se basicamente de Krill (pequenos camarões) e para identificá-la mais facilmente no oceano, ela não apresenta nadadeira dorsal (nas costas). Também apresenta calosidades na cabeça como se fossem verrugas o que permite a sua fácil identificação.
A Baleia Jubarte, tão famosa no Arquipélago de Abrolhos na Bahia, tem aproximadamente  15m de comprimento adulta e também 4 m quando filhote. Os espécimes adultos chegam a 30m toneladas com expectativa de vida ao redor dos 50 anos. Também alimenta-se de Krill e para identificá-la possui uma pequena nadadeira dorsal e grandes nadadeiras peitorais com comprimentos de 5 m podendo chegar a metade do comprimento do corpo.

Baleia Minke
A Baleia Minke, a menor das quatro, tem aproximadamente 7 m de comprimento adulta e 2,5 m quanto filhote. Os adultos pesam ao redor de 10 toneladas e vivem em torno de 45 anos. Alimentam-se de peixes e plâncton e são identificadas por uma mancha branca na parte superior das nadadeiras peitorais.
Por fim a Baleia de Bryde as mais raras de serem avistadas no sul do Brasil, tem mais ou menos 15 m de comprimento para as adultas e 3 m para os filhotes. Adultos pesam em torno de 16 toneladas e vivem aproximadamente 60 anos. Sua alimentação consiste em peixes de cardumes, plâncton e crustáceos em geral.  Diferente das anteriores que tem coloração mais acinzentada, a Bryde tem com mais azul e possui 3 pequenas quilhas ou nadadeiras na parte posterior da cabeça.

Baleia de Bryde
As baleias foram intensamente caçadas na costa brasileira a partir de 1602 data da expedição da primeira licença de caça às baleias no Brasil e em especial na região sul brasileira onde o comércio do óleo de baleia foi um importante produto de comércio com a Europa.  Eram abatidas aproximadamente 4 a 5 mil baleias por ano, principalmente fêmeas e filhotes. Claro que a matança indiscriminada praticamente acabou com as baleias na região, e em 1786 as capturas não chegaram a 1000 exemplares. Culminando que em 1819 foram mortas apenas 59, visto que com a morte das fêmeas e filhotes a reprodução era quase inexistente!

Baleia Jubarte fêmea em Itajuba 2012
Somente em 1923 o Brasil estabeleceu uma lei de regulação de captura das baleias, mas isso também pouco foi respeitado. Finalmente após décadas de pressão de ambientalistas e uma lei internacional de proibição da pesca dos cetáceos em 1986 o Brasil passou a ser oficialmente um país proibido para a captura de baleias. Atualmente poucos países ainda matam baleias, entre eles o Japão e a Noruega.
A poucos dias apareceram baleias Franca na costa de Barra Velha-SC tendo algumas sido avistadas bem perto das praias e com intensa divulgação nas redes sociais. Nossa recomendação é que o avistamento de baleias na forma embarcada seja feito sempre com muita segurança e cautela, pois apesar de serem muito dóceis estes mamíferos tem grande peso e envergadura, podendo causar acidentes em pequenas embarcações que se aproximem.  A aproximação natural das baleias das nossas praias é motivada principalmente para que os filhotes e as fêmeas possam descansar de sua longa viagem de mais de 5000 km desde a Antártida. Atualmente as baleias são uma bela atração turística principalmente na costa catarinense perto da região de Imbituba e Itapirubá mais ao sul do estado.




A alguns dias mais um exemplar da espécie Jubarte apareceu na costa de Barra Velha.
Encalhou na Praia da península ao norte da cidade onde permaneceu por dois dias até que diversas tentativas de resgate mostraram-se infrutíferas em devolvê-la ao mar. Até um rebocador oceânico foi deslocado do Porto de Imbituba na tentativa de puxá-la para alto mar. Assim mesmo ela retornou a praia no final de 4 dias e acabou morrendo.
Ainda não se sabe a real causa do óbito do cetáceo fato que ainda está sendo investigado por biólogos. Sabe-se de antemão que ela estava muito debilitada e com movimentação limitada da nadadeira ventral direita fato que impedia a sua correta flutuação e respiração. Pesquisadores realizaram a necrópsia e o exemplar será preservado no Museu Oceanográfico na cidade de Balneário Piçarras.


Desmembramento da baleia na Praia da Península-Barra Velha-SC

Vista da parte dianteira inferior invertida da Jubarte

Realizando a inspeção das entranhas do cetáceo
De qualquer forma ter baleias visitando a costa um bom sinal que as nossas águas oceânicas ainda preservam boa qualidade e permanece a esperança de que assim continue. Longa vida às baleias.

Cauda de Baleia Jubarte