Alguns dos assuntos cada vez mais recorrentes em muitas mídias são as mudanças climáticas e o aquecimento global.
Não existe muito consenso sobre os temas,
pois algumas vertentes dizem que as mudanças são decorrentes de ação direta ou
indireta do ser humano sobre o planeta. Outros defendem a tese de que as
mudanças percebidas cada vez com maior intensidade, são eventos cíclicos que
ocorrem naturalmente a cada Era Glacial ou apenas a normal evolução
transformativa pela qual o planeta está passando.
Teorias a parte, em cidades costeiras, são
percebidas algumas mudanças nas ações dos mares e oceanos nas superfícies
costeiras, com mais visibilidade nas praias, costões, falésias e promontórios.
Basta observar a recorrência cada vez maior de marés intensas, ressacas
marinhas motivadas por ciclones ou anti-ciclones que influenciam no
direcionamento e força das correntes marítimas. Essas mesmas correntes acabam
por alcançar a costa onde produzem efeitos muitas vezes devastadores.
Até a poucos anos atrás, as correntes
marítimas eram bastante conhecidas bem como as suas incidências. De uns tempos
para cá muitas dessas correntes marítimas sofreram mudanças de direcionamento e
isso acaba produzindo ações erosivas nas praias. A erosão costeira marinha é um
dos sintomas mais evidentes das mudanças climatológicas sobre o planeta. O
Brasil tem uma costa caracterizada por praias arenosas e falésias sedimentares
(70%) e costões rochosos e promontórios magmáticos vulcânicos (30%). Essa
característica de costa menos consolidada e com areia, faz com que a erosão
seja muito mais intensa e percebida, causando expressivas alterações no perfil
costeiro marinho brasileiro.
O secular costume de ocupar regiões
limítrofes ao oceano com cidades, lugarejos ou vilas, sempre com a edificação
de casas muitas vezes sobre dunas ou áreas não estáveis ou consolidadas acaba
por expor a fragilidade e insegurança de grande parte da nossa costa. As
mudanças dinâmicas proporcionadas por ações da natureza acabam impactando
diretamente nas vidas dos habitantes dessas regiões afetadas. Atitudes
paliativas como a construção de barreiras artificiais como espigões,
quebra-mares, muros marinhos (seawalls) e outros artifícios tentam minimizar ou
mesmo domar o avanço inexorável do mar em todas as regiões do planeta. Existem
casos onde ilhas inteiras estão cogitando a evacuação pois o avanço das marés
está tornando lençóis freáticos contaminados e salobros inutilizando a água
doce do subsolo para consumo.
Outra tentativa de conter o avanço do mar
é a alimentação artificial de praias e dunas, processo popularmente conhecido
como engorda da costa. A manutenção e replantio de vegetação de restinga também
é um dos caminhos escolhidos de forma a retardar a erosão costeira que a cada
dia se faz mais presente nas praias do Brasil e do Mundo. Não existe fórmula
mágica para conter o avanço do mar sobre a parte terrestre. O melhor caminho é
evitar a todo custo fazer a ocupação de áreas ao longo da incidência direta dos
oceanos, respeitando-se uma distância razoável para que haja o natural balanço
sedimentar.
O balanço sedimentar nada mais é do que o
eterno vai e vem das areias retiradas de um lugar e depositadas em outro. Outra
forma de equilibrar o balanço sedimentar é proveniente dos rios e das dunas,
que de forma natural trazem e depositam na costa grandes quantidades de areia,
transportadas pela água e pelos ventos. Sem a alimentação dessa areia pelos
rios e ventos o balanço sedimentar torna-se negativo produzindo cenas às quais
estamos ficando cada vez mais acostumados.
Toda costa litorânea de Santa Catarina
tem sido fortemente impactada ultimamente com a erosão costeira. Recentemente
visitando a Ilha de Florianópolis pude constatar praias como Canasvieiras,
Ingleses, Daniela, Jurerê e até mesmo Santo Antônio de Lisboa que fica no mar
interior, bastante afetadas pela erosão e consequente diminuição da faixa de
areia. A costa norte, sabidamente de Navegantes até Balneário Barra do Sul,
passando por Barra Velha também tem apresentado uma erosão costeira bastante
significativa, impactando diretamente na vida dos habitantes e de turista.
Casas que antes ficavam bem próximas ao mar hoje tem suas estruturas destruídas
ou danificadas e devem ser desocupadas antes que possam causar danos fatais.
Impedir o inevitável avanço do mar sobre a
costa é impossível. Todas as ações humanas não terão efeito duradouro por
melhor que sejam a tecnologia e os materiais utilizados. Respeitar e antever os
prováveis eventos causadores da erosão costeira é atitude a ser tomada de
imediato. Ocupar com construções regiões de risco onde sabidamente as ações dos
elementos da natureza estão agindo não é demonstração de sabedoria pois o tempo
e as mudanças temporais e climatológicas irão sobrepor-se à vontade humana de
qualquer forma. Cabe a nós tomarmos as decisões corretas.
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