quarta-feira, 18 de julho de 2018

Erosão Costeira


     

     Alguns dos assuntos cada vez mais recorrentes em muitas mídias são as mudanças climáticas e o aquecimento global.

     Não existe muito consenso sobre os temas, pois algumas vertentes dizem que as mudanças são decorrentes de ação direta ou indireta do ser humano sobre o planeta. Outros defendem a tese de que as mudanças percebidas cada vez com maior intensidade, são eventos cíclicos que ocorrem naturalmente a cada Era Glacial ou apenas a normal evolução transformativa pela qual o planeta está passando.
     Teorias a parte, em cidades costeiras, são percebidas algumas mudanças nas ações dos mares e oceanos nas superfícies costeiras, com mais visibilidade nas praias, costões, falésias e promontórios. Basta observar a recorrência cada vez maior de marés intensas, ressacas marinhas motivadas por ciclones ou anti-ciclones que influenciam no direcionamento e força das correntes marítimas. Essas mesmas correntes acabam por alcançar a costa onde produzem efeitos muitas vezes devastadores.
     Até a poucos anos atrás, as correntes marítimas eram bastante conhecidas bem como as suas incidências. De uns tempos para cá muitas dessas correntes marítimas sofreram mudanças de direcionamento e isso acaba produzindo ações erosivas nas praias. A erosão costeira marinha é um dos sintomas mais evidentes das mudanças climatológicas sobre o planeta. O Brasil tem uma costa caracterizada por praias arenosas e falésias sedimentares (70%) e costões rochosos e promontórios magmáticos vulcânicos (30%). Essa característica de costa menos consolidada e com areia, faz com que a erosão seja muito mais intensa e percebida, causando expressivas alterações no perfil costeiro marinho brasileiro.


     O secular costume de ocupar regiões limítrofes ao oceano com cidades, lugarejos ou vilas, sempre com a edificação de casas muitas vezes sobre dunas ou áreas não estáveis ou consolidadas acaba por expor a fragilidade e insegurança de grande parte da nossa costa. As mudanças dinâmicas proporcionadas por ações da natureza acabam impactando diretamente nas vidas dos habitantes dessas regiões afetadas. Atitudes paliativas como a construção de barreiras artificiais como espigões, quebra-mares, muros marinhos (seawalls) e outros artifícios tentam minimizar ou mesmo domar o avanço inexorável do mar em todas as regiões do planeta. Existem casos onde ilhas inteiras estão cogitando a evacuação pois o avanço das marés está tornando lençóis freáticos contaminados e salobros inutilizando a água doce do subsolo para consumo.
     Outra tentativa de conter o avanço do mar é a alimentação artificial de praias e dunas, processo popularmente conhecido como engorda da costa. A manutenção e replantio de vegetação de restinga também é um dos caminhos escolhidos de forma a retardar a erosão costeira que a cada dia se faz mais presente nas praias do Brasil e do Mundo. Não existe fórmula mágica para conter o avanço do mar sobre a parte terrestre. O melhor caminho é evitar a todo custo fazer a ocupação de áreas ao longo da incidência direta dos oceanos, respeitando-se uma distância razoável para que haja o natural balanço sedimentar.
     O balanço sedimentar nada mais é do que o eterno vai e vem das areias retiradas de um lugar e depositadas em outro. Outra forma de equilibrar o balanço sedimentar é proveniente dos rios e das dunas, que de forma natural trazem e depositam na costa grandes quantidades de areia, transportadas pela água e pelos ventos. Sem a alimentação dessa areia pelos rios e ventos o balanço sedimentar torna-se negativo produzindo cenas às quais estamos ficando cada vez mais acostumados.


      Toda costa litorânea de Santa Catarina tem sido fortemente impactada ultimamente com a erosão costeira. Recentemente visitando a Ilha de Florianópolis pude constatar praias como Canasvieiras, Ingleses, Daniela, Jurerê e até mesmo Santo Antônio de Lisboa que fica no mar interior, bastante afetadas pela erosão e consequente diminuição da faixa de areia. A costa norte, sabidamente de Navegantes até Balneário Barra do Sul, passando por Barra Velha também tem apresentado uma erosão costeira bastante significativa, impactando diretamente na vida dos habitantes e de turista. Casas que antes ficavam bem próximas ao mar hoje tem suas estruturas destruídas ou danificadas e devem ser desocupadas antes que possam causar danos fatais.
     Impedir o inevitável avanço do mar sobre a costa é impossível. Todas as ações humanas não terão efeito duradouro por melhor que sejam a tecnologia e os materiais utilizados. Respeitar e antever os prováveis eventos causadores da erosão costeira é atitude a ser tomada de imediato. Ocupar com construções regiões de risco onde sabidamente as ações dos elementos da natureza estão agindo não é demonstração de sabedoria pois o tempo e as mudanças temporais e climatológicas irão sobrepor-se à vontade humana de qualquer forma. Cabe a nós tomarmos as decisões corretas.
    


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