O Lixo da Copa

      
   Estamos “nos finalmentes” da Copa do Mundo de futebol no Brasil. Nesta semana, mais precisamente no domingo dia 13 acontecerá na cidade do Rio de Janeiro a tão esperada final deste campeonato mundial.
         No total foram utilizados 12 estádios para a realização dos jogos por todo o país, com um total de 3.100.000(três milhões e cem mil) ingressos colocados a disposição de torcedores, patrocinadores e convidados para assistirem as 64 partidas de futebol.  Estima-se que cada torcedor presente aos estádios produz em média 500g(quinhentos gramas) de resíduos, dependendo do seu poder aquisitivo e do local onde está sendo realizada a partida de futebol. Estes resíduos são provenientes de embalagens descartáveis de bebidas (latas, garrafas, copos) canudos plásticos, baldes e embalagens para pipoca, salgados, sanduiches, além de muito papel para guardanapos.

        Além de todo o material utilizado para acondicionamento de alimentos, incluímos na conta do meio ambiente, as bandeiras, adereços ornamentais pessoais, instrumentos e artefatos musicais e emissores de ruídos, bem como camisetas, e outros tipos de vestimentas utilizadas pelas torcidas dos mais diversos países, mesmo não integrantes das seleções participantes.  Além do lixo visível produzido estima-se, segundo o InBS(Instituto Brasileiro de Sustentabilidade), que durante a preparação para a Copa produziu-se  11(onze) milhões de toneladas de CO 2 e serão produzidos mais 3(três) milhões durante os jogos que duram cerca de um mês. Esta quantidade de resíduos é equivalente ao consumo de energia de 200 mil domicílios pelo período de um ano inteiro. Segundo o site da Personal CO2 Zero, será necessário um investimento por parte da FIFA na ordem de 18,5(dezoito e meio) milhões de dólares para neutralizar os efeitos do evento.

         Durante esta Copa, numa iniciativa já testada de forma experimental durante a Copa das Confederações em 2013, a empresa Coca-Cola em parceria com a FIFA estará realizando o gerenciamento dos resíduos sólidos para reciclagem, e para isso treinou um exército de 840 catadores que atuam nas diversas sedes dos jogos, recolhendo uma média de 5 toneladas desses resíduos em cada partida disputada, isso apenas de materiais coletados dentro das dependências dos estádios. O entorno das arenas esportivas merece um destaque. Nem tão positivo, pois nos estabelecimentos e bares localizados nas cercanias a enorme concentração de torcedores e turistas tem produzido literalmente montanhas de lixo e também odores fétidos provenientes na sua maioria de pessoas sem noção que além de arremessarem seus lixos em qualquer local, ainda urinam em casas, muros e demais logradouros públicos. Muito desse lixo na sua pequena forma como papeis de chicletes, balas, filtros de cigarros acabam em sarjetas e bocas de lobo, levados pelas chuvas e também pela própria lavagem dos logradouros executada pelas prefeituras municipais.

          Desta forma estes resíduos acabam em rios indo finalmente desaguar nas praias e mar. Vejam a enorme importância de fazer a destinação correta de todo tipo de rejeito e resíduo que a nossa sociedade produz. Um pequeno descuido acaba por transformar-se um grande problema onde se acumula todo tipo de lixo. A correta gestão dos resíduos sólidos sejam eles de origem orgânica ou industrial é imperativa. As cidades sede desse tipo de eventos não possuem estrutura dimensionada e adequada na correta destinação e reaproveitamento dos subprodutos por elas produzidos.  Só para se ter uma ideia, segundo a BBC Brasil, a cidade sede da Copa que está tendo o melhor aproveitamento nos índices de reciclagem é Porto Alegre com o percentual de 9,1% do seu lixo sendo reciclado. Cidades até então símbolos como Curitiba, Belo Horizonte e Brasília tem índices beirando os 6% de reciclagem, e outras como Fortaleza, Manaus e Cuiabá não chegam a 1% de reciclagem, salientando que algumas delas estão localizadas perto ou são paraísos da natureza e de atrativos naturais.

          O descaso com que tratamos a correta convivência com o lixo e resíduos ficou bem clara quando logo após a derrota do Japão frente às Costa do Marfim, os torcedores japoneses munidos de sacos de lixo azuis, que foram utilizados inicialmente como material de torcida, executaram a coleta e limpeza de todo o lixo produzido por eles durante a partida. Foi uma ação inédita  no nosso país, e foi pouco divulgado. A parte ruim do acontecido foi que não havia locais adequados para o depósito desses sacos de lixo, fato que deveria ter sido providenciado pelas prefeituras municipais, FIFA e suas parceiras. Com isso chegamos à conclusão de que todos devem ter a sua parcela de comprometimento com o meio ambiente e gestão de lixo. O cidadão deve sempre ter em mente sobre a real necessidade de consumir algo que produza muito resíduo. Deve ter a consciência sobre o tipo de material rejeitado quando do consumo até do correto descarte. E finalmente de forma geral as administrações públicas juntamente com parcerias privadas devem ter conhecimento e capacidade de gerenciar a reutilização, reaproveitamento e reciclagem de tudo que for descartado pelas populações visitantes e nativas de suas cidades.

         Todos estão envolvidos nesse processo, seja de forma voluntária ou imposta na forma das leis.  O lixo da Copa não é diferente do lixo que eu e você produzimos todos os dias. Os estimados em quase um milhão de visitantes por causa do evento mundial não mudarão significativamente a nossa produção de lixo normal, pois quase tudo que aqui se consome é produzido por aqui mesmo. O que muda é apenas a concentração dessa produção de lixo em locais pontualmente. Cabe aos poderes constituídos, de uma forma correta e definitiva, encarar e assumir as suas responsabilidades cobrando de todos a participação na solução do gerenciamento desse problema que se transformou literalmente numa montanha de lixo.
        

     Texto publicado na edição n° 109 do dia 24/07/2014  

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