quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Agronegócio X Florestas - Algumas Verdades Difíceis de Aceitar

Assim está ficando a Floresta Amazônica
Há poucos dias retornei de uma viagem que fiz ao Peru. Morando em Santa Catarina, poderia escolher diversos roteiros para atingir o meu objetivo, que era a famosa Cordilheira Blanca, norte do Peru, quase divisa com o Equador. Como já fui ao Peru alguns anos atrás pelo caminho mais curto - que é cruzando a Bolívia, desta vez escolhi atravessar o Brasil todo subindo para o norte. Atravessamos os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e finalmente o Acre, antes de adentrar o Peru.
Foram 4 dias de intensa rodagem percorrendo 4.300 km por terras tupiniquins vendo inúmeras cidades e cada vez menos matas durante o trajeto. Vivemos ainda uma ilusão de que do Mato Grosso do Sul-MS para cima em direção ao norte iremos admirar a tão famosa Floresta Amazônica e sua biodiversidade. A atual diversidade apresentada é de qual atividade do agronegócio que se apresenta nas centenas de quilômetros que cruzamos nos 5 estados. A variação fica entre o cultivo do milho, soja, feijão, trigo, arroz, amendoim e atividade pecuária com gado, suínos e aves.
Mais ao norte, já no Mato Grosso-MT, o panorama é um pouco diferente onde os campeões de atividades são as culturas de soja e algodão, sagrando-se campeão e produção em todo o Brasil. A pecuária bovina também está como destaque no panorama nacional e também o extrativismo vegetal com ênfase para a madeira (jacarandá, peroba, canela, angico-preto e jequitibá), borracha e castanha-do-pará.
Pecuária em Rondônia onde havia floresta
Chegando a Rondônia nos deparamos com imensas planícies de campos ocupadas por bois e constatamos que a pecuária responde por 60% de tudo que o estado exporta e o restante é preenchido por extrativismo vegetal e mineral, este último contando com a exploração da cassiterita (estanho) sendo o 2° maior produtor do Brasil. E assim chegamos ao Acre. Sim, o Acre existe, e a campeã disparada de atividade econômica do estado é a exploração, beneficiamento e exportação de madeira,  respondendo por nada menos do que 76% de tudo que o estado produz! Madeira! Nativa, cortada e vendida sem critérios e sem plano de manejo.
Por que citei todos esses dados? Apenas como fonte de informação para vermos o que está acontecendo com as nossas outrora florestas tropicais antes tão famosas, hoje em rápido processo de extinção. Percorrem-se centenas e centenas de quilômetros por estradas asfaltadas e não se vê mais um palmo da Floresta Amazônica. Os espaços antes ocupados pela diversidade vegetal natural da qual tanto nos orgulhávamos agora são preenchidos por campos de pastagens a perder de vista onde os destaques que chamam a atenção são as solitárias castanheiras (Bertholletia excelsa) que, por força da Lei 6895/2006, estão imunes a sua supressão e corte. São visões tristes onde convivendo com o devastador desmatamento para fins pecuários enxergam-se as solitárias sobreviventes do que antes era uma exuberante floresta.
Castanheira solitária perdendo espaço para a soja
Que fique bem claro que as atividades extrativistas e pecuárias da região destinam quase a totalidade de sua produção para a exportação, sendo os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, campeões em produtividade na soja e na carne bovina que é exportada para a Europa, Ásia e Oriente Médio. A destruição das florestas centenárias utiliza métodos ainda mais primitivos, quando enormes correntões tracionados por tratores derrubam absolutamente tudo que encontram pela frente. Depois da passagem dos correntões, vêm os madeireiros que cortam e beneficiam a madeira e o que não tem valor comercial simplesmente é queimado gerando as enormes nuvens de poluentes. Depois planta-se capim e pastagem e soltam-se milhares de cabeças de gado que irão alimentar milhões de pessoas em todo mundo. Ainda tem o custo do gás metano produzido pelas fezes animais que tem seu efeito multiplicado já que a floresta que antes poderia purificar o ar foi cortada e não realiza mais essa indispensável tarefa.
Floresta Amazônica queimada sendo transformada em "agronegócio"
Não sou simplista na afirmação de que o agronegócio é prejudicial ao Brasil. Afirmo com toda propriedade que o tão festejado agronegócio praticado no Brasil está devastando o meio-ambiente com danos e consequências irreversíveis à população. A produção agrícola e pecuária praticada de forma selvagem no Brasil produz o fenômeno de exaurir o solo, tornando-o infértil e estéril após alguns anos de utilização. A produção e extração de alimentos necessários à sobrevivência podem seguir critérios corretos de forma a não mais avançar sobre áreas nativas que são indispensáveis ao equilíbrio e recomposição da qualidade de vida. Só para exemplificar: antes o intenso calor existente em áreas limítrofes às florestas era amenizado pelas árvores e umidade de rios e do solo. Hoje as cidades da região norte do nosso país sofrem grandemente com temperaturas elevadas e falta de água em parte do ano diminuindo o conforto e qualidade de vida que havia antes. Sim, a capital do Acre, Rio Branco, passa períodos de estiagem onde os rios quase secam! Transformar floresta em dinheiro não é sabedoria, pois em pouco tempo não haverá mais florestas para serem trocadas por confortos e luxos supérfluos.

 
Chuva na amazônia-Rondônia

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