quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Canários, Pardais, Tico-Ticos e outros pássaros...

Canário da Terre ( Sicalis flaveola)
Bico de lacre, Coleirinho, Pintassilgo, Beija-flor, Bem-Te-Vi, Sabiá, João de Barro, são alguns dos nomes que sabemos entre outras dezenas e até centenas de passarinhos que vemos todos os dias, mas não enxergamos de verdade. Pode parecer bobagem mas todos eles fazem parte de uma grande cadeia de seres vivos que está presente no nosso dia a dia e pouco damos conta disso.
Passarinhos silvestres de jardim tem uma grande importância na manutenção de um equilíbrio ambiental. Eles consomem grandes quantidades de insetos e sementes de ervas daninhas que tanto nos incomodam. A cadeia alimentar natural acontece de forma tão espontânea que mal nos damos conta disso. A beleza das plumagens e o canto de algumas espécies chamam a atenção de quem tem um tempo para apreciar essas belezas naturais que existem tão perto de nós. Só para se ter uma ideia, calcula-se que existam mais de 1.900 espécies de aves no Brasil e dessas aproximadamente 110 espécies são consideradas aves urbanas pois acabaram se integrando às paisagens artificiais e abandonando seu habitat original.
Picapau Verde Barrado ( Colaptes melanochlorus)
A cada ano ocorrem cada vez mais intercorrências onde aves e outros animais são vistos em centros urbanos e suas periferias. O fato é que a expansão imobiliária e crescimento populacional são os motivadores de alargamento dos espaços urbanos em detrimento das matas e campos ainda preservados. É preocupante ver que com isso a avifauna por absoluta falta de espaços e opções comece a migração para as cidades em busca de alimento e abrigo e com isso acaba provocando problemas urbanos até então minimizados. Quem nunca se preocupou com a enorme quantidade de pombos ocupando espaços em casas e até edifícios? Já está provado que o pombo é hospedeiro de muitos parasitas sendo transmissor de doenças como a tuberculose, salmonelose e toxoplasmose entre outras moléstias que afligem o ser humano.
Rolinha Roxa ( Columbina talpacoti)
Saber que diversas espécies de aves estão diminuindo em quantidades significativas é preocupante, pois o equilíbrio na variedade e quantidade de qualquer uma delas afeta toda a cadeia alimentar natural. Hoje é comum se ver urubus, carcarás e até gaviões sobrevoando cidades e alimentando-se de restos de comidas e lixo. Outrora com a abundância alimentar em campos e matas estas espécies predadoras e carnívoras alimentavam-se de pequenas aves e roedores. Hoje sujeitam-se a ingerir animais urbanos em decomposição e restos alimentares humanos que muitas vezes não são bem tolerados e levam a morte por intoxicação.
Que fique bem claro que qualquer tipo de ave, seja urbana ou selvagem não é bicho de estimação e deve ter sua vida fora de gaiolas ou viveiros. A exceção fica por conta de aves exóticas que não tem seu habitat natural em nosso território e assim podem ser criados em cativeiro com respeito a natureza de suas espécies. Nem é preciso lembrar que criar ou comercializar aves nativas é crime ambiental conforme Lei Federal n° 9.605/1998 onde essa prática prevê penas de 6 meses a 3 anos de detenção e mais multas. As multas para esses crimes são pesadas começando em R$ 500,00 e podendo chegar a R$ 5.000,00 por pássaro apreendido, conforme a espécie. Outro detalhe importante é saber que apanhar ou recolher pássaros como Trinca-ferros, Coleiro, Curiós, e Canários da Terra xucros (na natureza) é crime ambiental. Precisamos saber que esse costume tão em voga na nossa sociedade precisa ser extinta definitivamente admitindo-se a exceção para criadores legalizados e registrados no IBAMA.
João de Barro ( Furnarius rufus)_
De qualquer forma poder observar e contemplar belos espécimes das mais variadas espécies de pássaros soltas na natureza é de encher os olhos e ouvidos de cores, formatos e sons. Uma atividade eco-contemplativa que tem crescido muito no Brasil e no mundo é o birdwatching ou birding. Essa atividade tem como objetivo de propiciar a observação de pássaros das mais variadas espécies nos seus ambientes naturais propiciando a manutenção de áreas naturais específicas para a proliferação das espécies e alavancando o turismo e geração de empregos e renda. Só para se ter uma ideia, somente nos Estados Unidos calcula-se em quase 45 milhões de pessoas adeptas do birdwatching o que equivale a  aproximadamente 22% da população. Na Europa países como a França, Alemanha, Suiça, Espanha e o reino Unido somam nada menos de 5 milhões de pessoas são ligadas a instituições parceiras que promovem essa bela atividade de observar pássaros. Em Santa Catarina ocorrem aproximadamente 600 espécies de aves de variadas espécies o que proporciona vasto material a ser observado.  Cidades na nossa região como Blumenau e Florianópolis já possuem grupos e atividades nessa área e apesar de ainda serem poucas e incipientes, demonstram o enorme potencial da região nessa forma de turismo sustentável.
Corrupião ( Icterus jamacaii)
Ter o privilégio de acordar todas as manhãs ao som de cantos e trinados dos mais diversos é um privilégio que com o passar do tempo está a diminuir. Cumpre ao ser humano consciente tomar lugar e posição no tema de preservação da natureza de forma que este privilégio possa ser desfrutado por muitos em todos os lugares.


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pedras Brancas e Pedras Negras


            Nós, moradores de Barra Velha, pelo próprio fato de morarmos nesse nosso paraíso, algumas vezes nos esquecemos de dar valor ao que temos de bonito e interessante na nossa cidade. Então, dessa vez, procurei me debruçar sobre um tema que muito me interessa e intriga, que é a nossa Praia das Pedras Brancas.
           A Praia das Pedras Brancas está localizada no Bairro de Itajuba com fácil acesso e é pouco movimentada, com exceção da época de temporada. Antigamente ali naquele pequeno recorte da nossa costa havia uma ativa comunidade de pescadores, hoje ela abriga uma série de casas de veraneio nas suas encostas que cercam uma pequena baía de águas limpas.
O nome Pedras Brancas foi dado ao lugar pela ocorrência de grande quantidade de rochas dessa cor, localizadas especificamente apenas numa faixa de terra de mais ou menos 100 metros. O que chama a atenção do lugar é que o afloramento dessas rochas brancas está posicionada sobre as demais rochas de cor escura (pedra preta). Este fenômeno é intrigante, pois as rochas brancas são provadamente, através de estudos, muito mais antigas do que as rochas negras, mas aqui na nossa cidade as pedras brancas estão por cima das pedras pretas. O natural seria que as rochas negras ígneas ultramáficas, resultantes de ações vulcânicas mais recentes estivessem por cima das rochas brancas metamórficas, mais antigas.


         Para entender melhor todo o processo de formação desse fenômeno precisamos voltar no tempo e descobrir que a base de nossa costa litorânea de Santa Catarina formou-se ainda na Era Pré-Cambriana (mais ou menos a 4,5 bilhões de anos atrás) mais precisamente no período Proterozoico que  se estende de 2,5 bilhões a 540 milhões de anos atrás. Só para se ter uma ideia, nessa época as únicas espécies de vida eram bem simples e básicas. Isso já foi provado por estudos e pelo tipo de formações rochosas como essas metamórficas brancas encontradas na Praia das Pedras Brancas.


         Essas pedras brancas são Quartzos da classe dos Gnaisses, rochas que se metamorfosearam/mudaram (metamórficas) de outras originais como os granitos, após serem submetidas a intensas pressões e elevadíssimas temperaturas.
         De outro modo as pedras negras presentes ao local e muito mais comum e encontradas em quase toda a costa, são basaltos ou gabros, materiais expelidos de vulcões numa época mais recente, provavelmente na Era Mesozoica, aproximadamente entre 250 e 65 milhões de anos atrás.

             Como, então, as pedras brancas mais antigas estão por cima das pedras pretas, mais novas?
             A resposta é baseada na formação das próprias eras, pois na Era Mesozoica, marcada em laranja na foto, foi caracterizada por grandes movimentações tectônicas das placas continentais, vulcanismo intenso, separação dos continentes no seu final (período Cretáceo) com isso encerrando a Pangeia. Mas um dos principais acontecimentos nessa época foi o aparecimento, evolução e posterior extinção dos dinossauros que tanto nos fascinam. 
            Com a movimentação do subsolo causado pelas intensas erupções vulcânicas, afloramento de rochas subterrâneas até então encobertas, umas por cima das outras, provocou um avanço daquele pedaço de terra sobre a orla marítima (promontório) e consequentemente sobre as pedras pretas e a então recém-formada praia. Dessa forma explica-se o porquê das pedras brancas muito mais antigas estarem sobre as negras.
           A região também possui um sítio arqueológico de sambaqui, feito pelos antigos habitantes do local, possivelmente atraídos também pelas tão chamativas pedras brancas ali existentes.


           Outro detalhe bem interessante é que as tais pedras brancas ali existentes possuem diferentes formas de cristalização e composição. Isso é explicado pela sua era geológica formativa, onde ainda no Período Câmbrico, a crosta terrestre estava se formando e os materiais que iriam futuramente se transformar em rochas sofria variações enormes de temperatura e pressão, alternando períodos de resfriamento lento e rápido, com isso causando a formação das chamadas Rochas Cristalinas por conterem pedaços e partes de granitos, ardósia e mármore, materiais que modificados deram origem a própria rocha em si.

           Assim podemos concluir que esta raríssima formação de rochas em Barra Velha deu-se por motivo de uma erupção e/ou movimentação de placa tectônica que trouxe a superfície essas lindas rochas que nós costumamos chamar de Pedras Brancas.  Mais intrigante é saber que as Pedras Brancas estão "separadas" das Pedras Negras por um período que pode chegar a 500 milhões de anos e que nesse mesmo lugar a muitos milhões de anos atrás por aqui poderiam ter caminhado enormes dinossauros e muitos outros tipos de vida e civilizações. Mas isso já é tema para uma próxima pesquisa.
          Aproveite e conheça a nossa Praia das Pedras Brancas e assim entenda um pouco mais sobre o nosso meio ambiente.