sábado, 10 de dezembro de 2016

Barra Velha 55 Anos – Vamos Comemorar?

SERÁ???  Tubulação de rio transformado em esgoto na Praia Central de Barra Velha
Nesta semana no dia 7 de dezembro a nossa querida Barra Velha completou o seu 55º Aniversário de Emancipação. Alguns festejos aconteceram de forma protocolar e habitual para essa nossa jovem cidade que está a crescer.
Temos realmente a algo a comemorar?  A cidade está crescendo de verdade? O que podemos festejar? Tomei a liberdade de percorrê-la de ponta a ponta, nesta semana do aniversário,  desde a divisa com Balneário Piçarras até as trilhas do Parque do Peabirú ( um sonho não realizado). Desde as suas 7 praias com quase 20 quilômetros até os bairros mais distantes como Vila Nova, Sertãozinho e Vila Paraguai.  Você sabe o que eu vi para comemorar? Quase nada!!
Nossa cidade cresce sim, mas desordenadamente onde a prioridade são os empreendimentos imobiliários executados sem critérios corretos levando a cidade toda a ser caótica e sem infraestrutura indispensável a um bom desenvolvimento. Basta caminhar em qualquer rua do centro da cidade ou dos bairros. Casas construídas dentro da área de domínio público não respeitando as ruas e calçadas. Novos edifícios surgindo em faixas bem próximas à beira-mar sem nenhuma infraestrutura básica municipal instalada. Propriedades rasgando e destruindo a Mata Atlântica na região dos bairros Vila Nova e Quinta dos Açorianos, onde deveria ser Área de Proteção Ambiental segundo a legislação. Árvores sendo cortadas nos logradouros e em seu lugar vemos a proliferação de palmeiras e flores exóticas que a população termina por roubar. Valetas abertas infectadas por esgotos exalando cheiros e proliferando insetos e doenças.
Valetas com esgoto e mosquitos por toda a cidade- Quinta dos Açorianos
Passamos mais 4 anos dessa gestão que iniciou em 01/01/2012 e finda em 31/12/2016 sendo ludibriados com as eternas falsas promessas nunca cumpridas! Só para lembrar a todos cito aqui todas as 12 (doze) propostas apresentadas pelo ainda Governo Municipal por ocasião de sua posse:
Ø Criação do Parque das Nascentes.
Ø Criação do Museu de Ciências Naturais.
Ø Desenvolver ações para a proteção de APPs e restinga.
Ø Incentivo a implementação do Parque do Peabiru.
Ø Ampliação de áreas verdes no município.
Ø Ciclo de palestras educativas e ambientais nas escolas.
Ø Estudo para identificar áreas de risco no município.
Ø Implantação do Jardim Botânico.
Ø Dragagem do Rio Itajuba e afluentes.
Ø Criação do Programa de Proteção da Praia da Península.
Ø Implantação da coleta seletiva de lixo.
Ø Capacitação de Agentes Ambientais.

Sim meus amigos leitores, tudo isso foi prometido, mas nada cumprido com exceção da tresloucada e malfadada ação de dragagem do Rio Itajuba que nunca deveria ter sido executada da forma como foi! Risíveis se não ridículas foram algumas promessas como: criação de um Jardim Botânico ou criação do Parque das Nascentes, ou ainda o que esperar de uma promessa de ampliação de Áreas verdes de uma administração municipal que tem como meta cortar árvores em todos os logradouros públicos e incentivar o desmatamento com objetivos imobiliários! Não que não fossem desejáveis, mas se nem o básico temos como prometer castelos?
Palmeiras plantadas(irregularmente) na praia Central
Molhe no Rio Itajuba
Passaram 55 anos da existência da nossa cidade e na contramão do desenvolvimento sustentável praticado em quase todo mundo, Barra Velha vai lentamente destruindo as suas belezas naturais que a diferenciavam de outros lugares tornando-se apenas mais uma cidade igual e desestruturada como muitas outras.
O desenvolvimento é desejável sim, mas não a qualquer preço. Não se priorizam ações básicas como saneamento básico com tratamento de esgotos e água abundante e de qualidade. As áreas verdes estão sendo transformadas em loteamentos e edifícios não sustentáveis. Nada se pensa em como solucionar o crescente problema de destinação de resíduos domésticos e de construção civil. A parte mais assustadora de todos esses problemas é que de forma completamente irresponsável a administração pública sorrateiramente mutilou e depois engavetou as salutares e benéficas mudanças contidas na formatação do então novo e natimorto Plano Diretor.
Devastação da Mata Atlântica em área de APP - Quinta dos Açorianos
Mais um aniversário de Barra Velha passa e perpetuamos os maus hábitos ambientais e ecologicamente incorretos amparados em licenças ambientais criminosas travestidas de legalidade que não se enquadram na legislação vigente. Fingir que algo está sendo feito é pior do que não fazer nada! Essa prática aviltante leva os incautos a acreditarem em obras inúteis e maquiadas que servem apenas ao propósito de que recursos naturais e financeiros sejam dilapidados ou subtraídos.
Lixo abandonado ao lado de placa avisando sobre APP

Devastação de área ambiental para exploração de saibro.- Itajuba
Mais de meio século passou diante dos nossos olhos e a cidade continua a utilizar-se de métodos ultrapassados já tornados ilegais ou simplesmente inúteis, como justificativa a um desejável desenvolvimento. Acredito que todos, sem exceção, querem uma cidade desenvolvida e bonita para se viver e isso se consegue com o cumprimento das leis e boa vontade da administração pública. Dar o bom exemplo assumindo sua responsabilidade funcional e legal é primordial de qualquer administração ou gestor que se habilite a cuidar de uma cidade. Todos já estão cansados de promessas não cumpridas e denúncias sobre gestão dos administradores municipais que se enfileiraram e se repetem no poder público municipal nos últimos anos.
Entulho depositado em APP- Itajuba
Encerro esta coluna que deveria ser comemorativa e alusiva a uma festa de aniversário como um lamento e alerta a todos que como eu, gostam de verdade de Barra Velha. Nossa cidade pode e merece muito mais do que tem sido feito até então, e assim sendo desejo de coração que cada um faça a sua parte demonstrando em ações e atitudes que realmente ama esta cidade. FELIZ ANIVERSÁRIO BARRA VELHA!!! Continuamos a sonhar e esperar por uma cidade linda e limpa!
Lixo depositado à beira da Praia do Tabuleiro

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Tsunamis e Ondas Gigantes


As notícias que são publicadas ou informadas na mídia em geral sempre foram pautadas em busca do ineditismo e sensacionalismo de forma a atrair a atenção do grande público. Nada muito tímido ou acanhado chama a atenção do ser humano então dessa forma uma forma de canalizar olhos e ouvidos é aumentar um fato ou acontecimento.
Ocorrências e cataclismos naturais sempre aconteceram sobre a face da terra desde que se tem qualquer registro. É histórico e até bíblico que terremotos, atividade vulcânica, enchentes e alagamentos sempre estiveram presentes ao cotidiano de muitas pessoas ao redor do mundo. Mais recentemente incorporou-se a esse seleto grupo de fenômenos naturais um vocábulo até então estranho e desconhecido, o Tsunami.
A palavra Tsunami adaptada da língua japonesa “tsw nä mi” que literalmente significa  - tsw – porto, ancoradouro e – nä mi – onda ou mar começou a ser conhecida cada vez mais do lado ocidental do mundo. A grande incidência de Tsunamis na face mais ao oriente e especificamente em áreas circunvizinhas ao Oceano Pacífico tem sua explicação no fato de que naquela região a atividade vulcânica e terremotos são muito mais comuns do que na parcela ocidental do globo terrestre. É sabido que grandes movimentações de placas tectônicas e erupções vulcânicas intensas são os gatilhos deflagradores de possíveis ondas gigantes e Tsunamis.

O primeiro registro que se tem sobre um Tsunami é do ano de 1692 ocorrido em Port Royal na Jamaica tendo sua origem em um terremoto seguido por um maremoto (terremoto submarino) e destruiu 70% da cidade causando a morte de mais de 3.000 pessoas. O Tsunami mais famoso até 2004 foi o ocorrido na Ilha de Krakatoa na Indonésia em agosto de 1883 quando o Vulcão Krakatoa explodiu provocando ondas de até 40 metros de altura e causou a morte de mais de 36.000 pessoas. Seus efeitos foram sentidos em toda a terra por mais de 18 meses, pois marés foram afetadas em todos os oceanos e a poeira levantada pela explosão mudou as características do nascer e pôr do sol e queda da temperatura da superfície da terra.  Em 2004 também na Indonésia aconteceu o terremoto Sumatra-Andaman também intensamente divulgado na mídia e com intensidade de 9,3 na escala Richter deflagrou o Tsunami que atingiu 14 países e causou aproximadamente 230.000 mortos. Até países como a África do Sul, distante mais de 10.500 km foram atingidos e tiveram vítimas registradas! Este evento alterou o posicionamento do Polo Norte em aproximadamente 2,5 cm e alterou definitivamente e de forma sutil muitas características climáticas e geográficas ao redor do planeta. Em tempos mais recentes o fenômeno mais devastador e intensamente registrado e divulgado foi o ocorrido em 2011 na cidade de Fukushima na costa leste do Japão, quando atingiu a intensidade de 9,0 na escala de Richter que vai até 10,0!

Desde que começou a se tornar mais frequente a ocorrência de Tsunamis, já foram registradas 18 ocorrências significativas em todo o globo, dessa forma merecendo uma atenção e um cuidado específico com seus efeitos devastadores em regiões costeiras. A intensidade crescente de fenômenos geológicos e meteorológicos tem sido registrada nos últimos anos e a poucos dias um acontecimento denominado de Tsunami Meteorológico aconteceu no litoral sul de Santa Catarina, atingindo as cidades de Tubarão. Estes eventos apesar de assustadores e também devastadores são pontuais e podem ter seus efeitos minimizados quando se observa a formação de tempestades nas bordas litorâneas principalmente durante a primavera e o verão quando mudanças climáticas bruscas provocam esses fenômenos.

Interessante é saber distinguir Tsunamis de ondas gigantes pois os primeiros ocorrem esporadicamente em regiões onde normalmente as marés são ritmadas e tranquilas enquanto que ondas gigantes são habituais em diversos pontos do planeta como  as famosas Mavericks Na costa da California, Jaws no Hawai, Cortez Banks também na California, Waimea também no Hawai e Todos os Santos na costa Mexicana. Novamente chama a atenção o fato de que todas essas ondas gigantes acontecem nas bordas do Oceano Pacífico denotando uma natural predominância desses fenômenos no maior oceano do mundo. As ondas gigantes são o sonho e também pesadelo de muitos esportistas aficionados pelo surf que buscam desafiar as verdadeiras paredes de água que se apresentam. Todas as citadas apresentam ondas superiores a 15 metros de altura e as recordistas são as Mavericks chegando a 22 metros. Os Tsunamis não têm medidas definidas de tamanho de onda e como exemplo podemos citar o Tsunami de Fukushima com onda de 12 metros enquanto que os ocorridos na Indonésia superaram 30 metros de altura.

Impedir que esses eventos aconteçam é impossível, bem como prever a sua ocorrência. A prevenção e atenção aos sinais que a natureza envia antes dos acontecimentos sim tem extrema importância. Outro fato a ser levado em consideração são as alterações impactantes que o ser humano promove na superfície do planeta e abaixo dela quando realiza perfurações em busca de minerais, água ou outros recursos naturais.  A frequência e consequências causadas por fenômenos geológicos e meteorológicos são partes de algumas atitudes impensadas que executamos. Do resto a natureza é soberana.


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Canários, Pardais, Tico-Ticos e outros pássaros...

Canário da Terre ( Sicalis flaveola)
Bico de lacre, Coleirinho, Pintassilgo, Beija-flor, Bem-Te-Vi, Sabiá, João de Barro, são alguns dos nomes que sabemos entre outras dezenas e até centenas de passarinhos que vemos todos os dias, mas não enxergamos de verdade. Pode parecer bobagem mas todos eles fazem parte de uma grande cadeia de seres vivos que está presente no nosso dia a dia e pouco damos conta disso.
Passarinhos silvestres de jardim tem uma grande importância na manutenção de um equilíbrio ambiental. Eles consomem grandes quantidades de insetos e sementes de ervas daninhas que tanto nos incomodam. A cadeia alimentar natural acontece de forma tão espontânea que mal nos damos conta disso. A beleza das plumagens e o canto de algumas espécies chamam a atenção de quem tem um tempo para apreciar essas belezas naturais que existem tão perto de nós. Só para se ter uma ideia, calcula-se que existam mais de 1.900 espécies de aves no Brasil e dessas aproximadamente 110 espécies são consideradas aves urbanas pois acabaram se integrando às paisagens artificiais e abandonando seu habitat original.
Picapau Verde Barrado ( Colaptes melanochlorus)
A cada ano ocorrem cada vez mais intercorrências onde aves e outros animais são vistos em centros urbanos e suas periferias. O fato é que a expansão imobiliária e crescimento populacional são os motivadores de alargamento dos espaços urbanos em detrimento das matas e campos ainda preservados. É preocupante ver que com isso a avifauna por absoluta falta de espaços e opções comece a migração para as cidades em busca de alimento e abrigo e com isso acaba provocando problemas urbanos até então minimizados. Quem nunca se preocupou com a enorme quantidade de pombos ocupando espaços em casas e até edifícios? Já está provado que o pombo é hospedeiro de muitos parasitas sendo transmissor de doenças como a tuberculose, salmonelose e toxoplasmose entre outras moléstias que afligem o ser humano.
Rolinha Roxa ( Columbina talpacoti)
Saber que diversas espécies de aves estão diminuindo em quantidades significativas é preocupante, pois o equilíbrio na variedade e quantidade de qualquer uma delas afeta toda a cadeia alimentar natural. Hoje é comum se ver urubus, carcarás e até gaviões sobrevoando cidades e alimentando-se de restos de comidas e lixo. Outrora com a abundância alimentar em campos e matas estas espécies predadoras e carnívoras alimentavam-se de pequenas aves e roedores. Hoje sujeitam-se a ingerir animais urbanos em decomposição e restos alimentares humanos que muitas vezes não são bem tolerados e levam a morte por intoxicação.
Que fique bem claro que qualquer tipo de ave, seja urbana ou selvagem não é bicho de estimação e deve ter sua vida fora de gaiolas ou viveiros. A exceção fica por conta de aves exóticas que não tem seu habitat natural em nosso território e assim podem ser criados em cativeiro com respeito a natureza de suas espécies. Nem é preciso lembrar que criar ou comercializar aves nativas é crime ambiental conforme Lei Federal n° 9.605/1998 onde essa prática prevê penas de 6 meses a 3 anos de detenção e mais multas. As multas para esses crimes são pesadas começando em R$ 500,00 e podendo chegar a R$ 5.000,00 por pássaro apreendido, conforme a espécie. Outro detalhe importante é saber que apanhar ou recolher pássaros como Trinca-ferros, Coleiro, Curiós, e Canários da Terra xucros (na natureza) é crime ambiental. Precisamos saber que esse costume tão em voga na nossa sociedade precisa ser extinta definitivamente admitindo-se a exceção para criadores legalizados e registrados no IBAMA.
João de Barro ( Furnarius rufus)_
De qualquer forma poder observar e contemplar belos espécimes das mais variadas espécies de pássaros soltas na natureza é de encher os olhos e ouvidos de cores, formatos e sons. Uma atividade eco-contemplativa que tem crescido muito no Brasil e no mundo é o birdwatching ou birding. Essa atividade tem como objetivo de propiciar a observação de pássaros das mais variadas espécies nos seus ambientes naturais propiciando a manutenção de áreas naturais específicas para a proliferação das espécies e alavancando o turismo e geração de empregos e renda. Só para se ter uma ideia, somente nos Estados Unidos calcula-se em quase 45 milhões de pessoas adeptas do birdwatching o que equivale a  aproximadamente 22% da população. Na Europa países como a França, Alemanha, Suiça, Espanha e o reino Unido somam nada menos de 5 milhões de pessoas são ligadas a instituições parceiras que promovem essa bela atividade de observar pássaros. Em Santa Catarina ocorrem aproximadamente 600 espécies de aves de variadas espécies o que proporciona vasto material a ser observado.  Cidades na nossa região como Blumenau e Florianópolis já possuem grupos e atividades nessa área e apesar de ainda serem poucas e incipientes, demonstram o enorme potencial da região nessa forma de turismo sustentável.
Corrupião ( Icterus jamacaii)
Ter o privilégio de acordar todas as manhãs ao som de cantos e trinados dos mais diversos é um privilégio que com o passar do tempo está a diminuir. Cumpre ao ser humano consciente tomar lugar e posição no tema de preservação da natureza de forma que este privilégio possa ser desfrutado por muitos em todos os lugares.


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pedras Brancas e Pedras Negras


            Nós, moradores de Barra Velha, pelo próprio fato de morarmos nesse nosso paraíso, algumas vezes nos esquecemos de dar valor ao que temos de bonito e interessante na nossa cidade. Então, dessa vez, procurei me debruçar sobre um tema que muito me interessa e intriga, que é a nossa Praia das Pedras Brancas.
           A Praia das Pedras Brancas está localizada no Bairro de Itajuba com fácil acesso e é pouco movimentada, com exceção da época de temporada. Antigamente ali naquele pequeno recorte da nossa costa havia uma ativa comunidade de pescadores, hoje ela abriga uma série de casas de veraneio nas suas encostas que cercam uma pequena baía de águas limpas.
O nome Pedras Brancas foi dado ao lugar pela ocorrência de grande quantidade de rochas dessa cor, localizadas especificamente apenas numa faixa de terra de mais ou menos 100 metros. O que chama a atenção do lugar é que o afloramento dessas rochas brancas está posicionada sobre as demais rochas de cor escura (pedra preta). Este fenômeno é intrigante, pois as rochas brancas são provadamente, através de estudos, muito mais antigas do que as rochas negras, mas aqui na nossa cidade as pedras brancas estão por cima das pedras pretas. O natural seria que as rochas negras ígneas ultramáficas, resultantes de ações vulcânicas mais recentes estivessem por cima das rochas brancas metamórficas, mais antigas.


         Para entender melhor todo o processo de formação desse fenômeno precisamos voltar no tempo e descobrir que a base de nossa costa litorânea de Santa Catarina formou-se ainda na Era Pré-Cambriana (mais ou menos a 4,5 bilhões de anos atrás) mais precisamente no período Proterozoico que  se estende de 2,5 bilhões a 540 milhões de anos atrás. Só para se ter uma ideia, nessa época as únicas espécies de vida eram bem simples e básicas. Isso já foi provado por estudos e pelo tipo de formações rochosas como essas metamórficas brancas encontradas na Praia das Pedras Brancas.


         Essas pedras brancas são Quartzos da classe dos Gnaisses, rochas que se metamorfosearam/mudaram (metamórficas) de outras originais como os granitos, após serem submetidas a intensas pressões e elevadíssimas temperaturas.
         De outro modo as pedras negras presentes ao local e muito mais comum e encontradas em quase toda a costa, são basaltos ou gabros, materiais expelidos de vulcões numa época mais recente, provavelmente na Era Mesozoica, aproximadamente entre 250 e 65 milhões de anos atrás.

             Como, então, as pedras brancas mais antigas estão por cima das pedras pretas, mais novas?
             A resposta é baseada na formação das próprias eras, pois na Era Mesozoica, marcada em laranja na foto, foi caracterizada por grandes movimentações tectônicas das placas continentais, vulcanismo intenso, separação dos continentes no seu final (período Cretáceo) com isso encerrando a Pangeia. Mas um dos principais acontecimentos nessa época foi o aparecimento, evolução e posterior extinção dos dinossauros que tanto nos fascinam. 
            Com a movimentação do subsolo causado pelas intensas erupções vulcânicas, afloramento de rochas subterrâneas até então encobertas, umas por cima das outras, provocou um avanço daquele pedaço de terra sobre a orla marítima (promontório) e consequentemente sobre as pedras pretas e a então recém-formada praia. Dessa forma explica-se o porquê das pedras brancas muito mais antigas estarem sobre as negras.
           A região também possui um sítio arqueológico de sambaqui, feito pelos antigos habitantes do local, possivelmente atraídos também pelas tão chamativas pedras brancas ali existentes.


           Outro detalhe bem interessante é que as tais pedras brancas ali existentes possuem diferentes formas de cristalização e composição. Isso é explicado pela sua era geológica formativa, onde ainda no Período Câmbrico, a crosta terrestre estava se formando e os materiais que iriam futuramente se transformar em rochas sofria variações enormes de temperatura e pressão, alternando períodos de resfriamento lento e rápido, com isso causando a formação das chamadas Rochas Cristalinas por conterem pedaços e partes de granitos, ardósia e mármore, materiais que modificados deram origem a própria rocha em si.

           Assim podemos concluir que esta raríssima formação de rochas em Barra Velha deu-se por motivo de uma erupção e/ou movimentação de placa tectônica que trouxe a superfície essas lindas rochas que nós costumamos chamar de Pedras Brancas.  Mais intrigante é saber que as Pedras Brancas estão "separadas" das Pedras Negras por um período que pode chegar a 500 milhões de anos e que nesse mesmo lugar a muitos milhões de anos atrás por aqui poderiam ter caminhado enormes dinossauros e muitos outros tipos de vida e civilizações. Mas isso já é tema para uma próxima pesquisa.
          Aproveite e conheça a nossa Praia das Pedras Brancas e assim entenda um pouco mais sobre o nosso meio ambiente.


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Governo X Meio Ambiente – Entenda o Que Não Dá Certo


Você ainda lembra o que é Meio Ambiente não é mesmo?  Recapitulando: É todo lugar onde as mais diversas formas de vida animal, vegetal, humana e até acidentes geográficos e geológicos convivem. Resumindo: É onde estamos nesse momento. Aí você pergunta: Por que Governo X Meio Ambiente? Não deveria ser Governo = Meio Ambiente? Siiiiimmmm deveria, mas infelizmente não é! Sabe por quê? Porque na esmagadora maioria dos governos os mandatários não tem uma visão ambientalista. O ambientalismo não é contra uma visão desenvolvimentista, mas é sim contra um desenvolvimento não sustentável. A sustentabilidade só acontece quando todos atores, humanos, animais, vegetais e minerais conseguem dialogar e conviver harmonicamente.

Esse diálogo não acontece com palavras jogadas ao vento em discursos populistas, mas sim em ações concretas e responsáveis que venham a beneficiar sem destruir. Governo, seja em qual esfera atue, visa principalmente o incremento financeiro, pois vive exclusivamente de arrecadação de impostos. Seguindo nessa linha as políticas acabam beneficiando apenas alguns segmentos específicos deixando de lado todo o resto da população. Todos sabem que os governos municipais têm como sua grande prioridade o famigerado IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), pois ele sustenta a máquina administrativa. Então quanto mais imóveis construídos numa área urbana maior será a arrecadação financeira. Nesse perverso ciclo desenvolvimentista a questão ambiental sempre é deixada de lado.

Basta ver nossas cidades como Barra Velha, Balneário Piçarras, São João do Itaperiú, Araquari e tantas outras. Quanto mais as cidades crescem na suar urbanização mais relegado ao segundo plano fica a questão ambiental. Que fique bem claro que é possível a convivência harmônica desde que os governantes ajam com responsabilidade ecológica.
Legislações existem. O Brasil é o país que tem a melhor legislação ambiental do mundo segundo a ONU. Temos Ministério de Meio Ambiente, Secretarias Estaduais e Municipais, Fundações Ambientais, ONGs, Entidades Filantrópicas que defendem questões ambientais e tudo mais. Então porque somos ainda o país que mais desmata no mundo?  Porque somos o país que encabeça a lista de animais em extinção? A resposta é bem fácil: Cobiça, ganância e descaso aliados a falta de cumprimento das leis. Não basta ter leis, elas precisam ser cumpridas! Também temos o péssimo hábito de acreditar no poder absoluto do dinheiro e que ele resolverá todas as nossas necessidades. Valores monetários não são necessários para a preservação do ambiente que nos suporta. O planeta Terra já não dá mais conta das agressões ambientais às quais é submetido. Hoje para podermos manter a tão qualidade de vida precisaríamos ter duas Terras e meia para equilibrar a balança da sustentabilidade.

Governos são instituídos para providenciarem soluções. Para isso é que foram eleitos originalmente. Os desvirtuamentos das funções que os governos praticam acabam por apenas criar mais problemas do que soluções, colocando em interrogação a real necessidade desse tipo de governo instituído. Entende-se que um governo deveria ser composto por pessoas de notório saber com soluções práticas e fáceis ante os problemas apresentados. Na prática a realidade é completamente oposta quanto vemos a cada dia que passa a incapacidade governamental em resolver problemas, passando a estes desgovernos serem os maiores causadores dos problemas.
Ações criminosas como aterramento de margens de rios, permissão de edificações em encostas de morros, ocupação ilegal e irresponsável de faixa de dunas e vegetação de restinga, retificação de cursos de rios, desmatamento de áreas remanescentes de matas e florestas, contaminação de rios e lagoas por esgotos urbanos, são parte de uma interminável lista de crimes permitidos e praticados por administrações municipais de todos os municípios na nossa região. Os piores crimes são aqueles praticados por quem deveria zelar pela manutenção do patrimônio natural. Menos de 30% dos municípios brasileiros cumprem a legislação da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos). Metade dos municípios não tem coleta de esgoto e dos que coletam, menos de 20% são tratados.

Que fique bem claro que cidades que não oferecem um meio ambiente limpo e adequado não terão um futuro promissor. As pessoas sempre buscam uma natureza agradável e limpa para seu lazer e convivência. Quer um exemplo: Quando você sai de férias você tira fotografias de montanhas, florestas, praias de areia branquinha, rios cristalinos, cachoeiras limpas ou tira fotos de rios de esgoto, prédios enormes, centenas de carros, montes de lixo, calçadas cheias de gente, indústrias despejando fumaça na atmosfera?
A sustentabilidade pode conviver com o desenvolvimento urbano bastando que as populações e seus respectivos governos pensem e ajam de forma a respeitar o meio ambiente. Governos que só pensam em arrecadações impostas não são governos, mas sim criminosos autorizados. Logo estaremos às portas de mais uma eleição municipal. Veja qual o comprometimento que  candidatos às eleições tem com o meio ambiente e sustentabilidade. Pergunte ao candidato se ele sabe o que é sustentabilidade. Se ele não souber, busque outra opção porque até hoje nossas cidades não tem tido administrações voltadas à proteção do nosso bem mais precioso, nossas vidas em harmonia com a natureza.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Orquídeas – Lindas Fascinantes e tão Desconhecidas.


Todo mundo já viu alguma e todos acham lindas. As orquídeas fascinam a todos pela sua diversidade e beleza plástica e formatos diversificados e intrigantes.  A origem do nome “orquídea”, plantas que compõe a família Orchidaceae vem do grego, numa palavra composta que já surpreende pela sua formação.  (Órkhis) que significa testículo e (eidos) que significa formato, em referência ao formato diferenciado que a parte inferior de muitas orquídeas possuem a qual chamamos de labelo.
Partes de uma flor de orquídea
As flores das orquídeas são formadas por partes bem distintas e as principais são: Pétalas, sépalas, coluna, labelo, estigma e antera. As três primeiras são as partes externas mais vistosas e as outras duas contem toda a parte reprodutora da planta. Orquídeas ao contrário do que muitos pensam não são plantas parasitas. Elas são na sua grande maioria epífitas utilizando outros apoios como árvores, plantas, pedras, ou mesmo terra e areia apenas como locais de apoio. No cultivo doméstico são utilizados como substratos e locais de plantio os mais diversos tipos como casca de coco, cascas de árvores fragmentadas, musgos, entre outros, sendo que estes substratos servem como fonte de coleta de umidade e nutrição para as orquídeas.
Mais de 80% das orquídeas são aéreas ou epífitas não se adaptando muito bem a outros meios como o solo por não serem plantas muito resistentes ao excesso de umidade. Apesar disso existem plantas da família das orquidáceas que são exclusivamente térreas e nesse caso são espécies muito resistentes. Esse é um ponto a levar em consideração, alertando para que se evite o uso de vasos fechados na sua parte inferior bem como a colocação de pratos que acabem concentrando água, fato determinante para o apodrecimento das raízes e posterior morte da orquídea.
Dendrobium nobile-Olho de Boneca

Orquídeas existem na natureza em quase todas as regiões do planeta, menos na Antártida e no Ártico. A predominância ocorre preferencialmente nas regiões tropicais e montanhosas, motivada pela grande diversidade de formações vegetais e pelos acidentes geográficos que acabam por proteger as plantas. O país com maior incidência de orquídeas no mundo é a Colômbia com mais de 4010 plantas registradas. Depois seguem o Equador, a Nova Guiné e o Brasil com aproximadamente 2600 espécies.
Partes de uma planta
As orquídeas diferente de outras flores possui também uma anatomia diferenciada. Suas partes consistem de baixo para cima: Raiz, rizoma, broto, bulbo ou pseudobulbo, axilas foliares, folhas, bráctea ou caule da flor, botão e finalmente a flor.
O cultivo das orquídeas é uma das atividades botânicas mais difundidas no mundo, mas apesar da imensa variedade e espécies existentes, poucas delas têm alguma utilidade prática além da imensa beleza. Exceções como a Vanilla usada na produção da baunilha, algumas espécies podem ser utilizadas em chás, perfumes e aromatizantes de tabaco. Também algumas espécies podem ser usadas como matéria prima de farinha, sorvetes e até cola e adesivos.  Comercialmente as orquídeas são altamente valorizadas como flores de corte que podem servir a uma infinidade de arranjos decorativos, ramalhetes e buquês que tanto agradam aos admiradores.

Dendrobiuns, Phalaenopsis, Cattleyas, Oncíduns, Vandas, Epidendrum, Laelias,  são nomes muito ouvidos no meio orquidófilo mas a infinidade de nomenclaturas e espécies são multiplicadas quando se sabe que o cruzamento de espécies entre si produzem plantas únicas e muitas vezes inéditas. Estima-se em mais de 25.000 espécies de orquídeas já registradas sendo por este motivo a maior família entre todas as famílias botânicas. Já os números das orquídeas híbridas, ou seja, cruzamentos entre espécies podem superar facilmente às 100.000 espécies diferentes. Esses cruzamentos após devidamente acompanhados e registrados com dados e fotografias podem ser oficialmente catalogados em registros da Royal Horticultural Society (Real Sociedade Horticultural)  na Inglaterra sendo que o seu idealizador pode batizá-los com nomes de sua preferência.  Pela sua complexidade a recomendação a um iniciante no cultivo das orquídeas é sua participação em algum clube ou sociedade de cultivadores. Na nossa região diversas agremiações existem e podemos citar a COLCA (Círculo de Orquidófilos do Litoral catarinense), COB( Círculo de Orquidófilos de Blumenau), AJAO(Agremiação Joinvilense de Amadores de Orquídeas) e também a FCO (Federação Catarinense de Orquidofilia).

As orquídeas tem fascinado o homem há quase 3000 anos atrás, quando até o sábio Confúcio já citava estas flores enaltecendo seus perfumes, beleza, delicadeza e elegância. Na Europa da Idade Média, no México com os Astecas entre outros povos há citações com orquídeas evidenciando o interesse por estas plantas exóticas e encantadoras.
De qualquer forma uma coisa é certa. Orquídeas não são plantas tão frágeis como se acredita.  Muitas delas podem ficar muitos dias expostas a condições adversas e assim mesmo resistem muito bem a mudanças climáticas principalmente os híbridos que acabam sendo pela sua composição de mais fácil aclimatação que as plantas naturais. Basicamente não existe muito mistério no cultivo simplificado das orquídeas. Basta respeitar a natureza das plantas para que possamos ter orgulho em admirar belas plantas e lindas flores.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Barrinha de Itajuba – Beleza Natural ou Problema ?


Na última semana precisamente no dia 25 de junho de 2016 aconteceu uma cerimônia de entrega à comunidade de uma ação municipal na Praia de Itajuba. O lugar em questão fica localizado na Praia das Pedras Brancas ou popularmente Praia da Barrinha, nomeada assim por estar limítrofe a desembocadura do Rio Itajuba. A famosa Barrinha do Itajuba já foi assunto e tema de muitas e apaixonadas discussões, e agora não poderia ser diferente.
Porque elementos geográficos ou geológicos como florestas ou uma praia ou mesmo um rio podem vir a se transformar abruptamente de belezas naturais em problemas e debates muitas vezes acaloradas?
Para entender o que está acontecendo com a atual situação da região do estuário do principal rio em Itajuba vamos voltar no tempo, a aproximadamente 25 ou 30 anos atrás quando da explosão imobiliária na região começou a discussão sobre o tema Barrinha de Itajuba.  Imobiliárias locais ofereciam terrenos e edificações já construídas para a venda de forma frenética, apregoando que a região limítrofe ao longo do Rio Barreirinhas poderia inclusive se transformar em uma marina para barcos esportivos ou de recreação.  Aí você pergunta: Rio Barreirinhas? Sim, o braço ou afluente que tem sua origem mais ao norte tem essa nomenclatura em diversos mapas geofísicos e de microbacias da região. O nome Rio Itajuba é dado ao braço mais a oeste, proveniente das antigas nascentes que estavam localizadas do outro lado da BR 101 em direção ao bairro Medeiros. Com isso muitas novas propriedades foram sendo implantadas com construções nem sempre respeitando a legislação, culminando com inúmeras e devastadoras agressões ao rio com a supressão completa de vegetação ciliar e desmatamento total de árvores remanescentes da Mata Atlântica então presente.

Esgoto e construções irregulares às margens do Rio Itajuba


Com este cenário descortinando-se com inúmeras habitações e até pequenas indústrias pesqueiras entre outras, despejando seus resíduos e esgotamento sanitário diretamente no curso d’água, e somando-se a isso as chuvas intensas começam a carregar terra, areia e outros entulhos para dentro do leito do rio. Como isso acontece?  Sem a devida proteção proporcionada pela vegetação ciliar, que filtra esse resíduo, toda e qualquer matéria orgânica e não orgânica não tem nenhum impedimento em alcançar o leito do rio e ali se depositando. Com isso é natural que a profundidade e mesmo a largura do rio inicie um gradual processo de diminuição, chamado assoreamento, causando o primeiro problema sentido por todos os moradores ribeirinhos e o bairro em geral; as enchentes!
Foz do rio em dia de enchente
Lamentavelmente o problema das enchentes não é o mais grave, apesar de incomodar a todos e proporcionar grandes prejuízos financeiros. As enchentes bem como o fechamento da foz do Rio Itajuba (Boca da Barrinha) pela areia e terra são apenas consequências. A causa de todos estes problemas tem sua origem na diminuição de vegetação e supressão das árvores nativas de toda a microbacia fluvial.  Aí você pergunta: O que? Como as árvores podem interferir no rio?
Como isso acontece?  Inicialmente precisamos entender que um rio só existe quando há umidade suficiente no solo para que essa umidade aflore (chegue a superfície) formando um pequeno fio de água corrente. Somando-se diversos fios de água, logo teremos um riacho e com diversos riachos teremos um rio. As tão comentadas nascentes subterrâneas são provenientes de afloramentos de água de aquíferos ou apenas infiltrações resultantes de acumulação de águas represadas em outro local. Para que as nascentes ocorram, é preciso que o solo tenha umidade suficiente para permitir a expulsão desta água para a superfície, determinando o início de um riacho. Sabendo disso vemos no caso específico do Rio Itajuba a diminuição lenta e gradativa do volume de água produzido nas suas nascentes, chegando hoje a existir apenas dois braços principais.
O acompanhamento e monitoramento dos volumes de água existentes no leito do rio tem nos avisado de que a cada ano, a vazão diminui. Segundo observações e acompanhamentos otimistas a atual vazão reduziu-se a 70% ou 60% do original ou até menos do que isto. Estima-se que anteriormente em períodos de estiagem o rio supria de 250 a 300 litros por segundo na sua foz. Nos dias atuais com estiagem prolongada a vazão muitas vezes não chega a 100 litros por segundo, chegando a casos extremos a não ter mais vazão e energia suficiente para se sobrepor à força das ondas e das marés. Dessa forma nem a areia trazida pelo mar e nem a terra levada pelo rio conseguem ultrapassar um ao outro resultando no encontro das águas e encontro da terra com a areia que acaba sendo depositado ali mesmo na foz do rio. Nos anos passados a municipalidade até utilizava-se de tratores para de forma forçada abrir a foz do rio para permitir o escoamento dos dejetos e lixo acumulado, fatos que proporcionavam insuportável e fétido odor.
Os moradores e habitantes mais antigos podem ser consultados sobre a fartura de peixes e crustáceos oferecidos pelo rio a mais de 30 anos atrás. Quem não lembra inclusive das grandes quantidades de camarão presentes às margens do rio quando anoitecia, proporcionando o recolhimento de forma fácil e manual. Robalos de 3 a 4 kg ou até maiores eram pescados na confluência do rio com a Rua João Fernandes da Costa.
Tubulação sub-dimensionada para passagem do Rio


Praia fluvial que não mais existe 
Com este panorama delineado chegamos então agora ao tão discutido assunto de realizar alguma obra para desassoreamento da foz do Rio Itajuba. Essa ação foi solicitada por muitos como a salvação e solução de todos os problemas que o rio passou a apresentar. Vamos deixar bem claro que nenhuma obra que seja executada na foz do rio, em qualquer rio, seja a solução. A única solução é recuperar de forma imediata do rio como um todo!
Apresentado um projeto  pela municipalidade já no passado ano de 2015, este foi realizado no primeiro trimestre de 2016 e finalizado no dia 14 de março de 2016.  A realização desta obra segundo as autoridades foi uma solicitação da comunidade. As justificativas apresentadas para a realização desta obra que custou R$ 1.131.224,95(um milhão, cento e trinta e um mil, duzentos e vinte e quatro reais e noventa e cinco centavos) foram diversas, mas as duas mais comentadas foram: “Extinção das enchentes e acesso ao leito e margens internas do rio para abrigo e guarda de embarcações de pesca”. O projeto, execução, custo, formatação e finalização foram contestados por diversas entidades e pessoas, mas isso não foi levado em consideração. Poucos meses depois de concluída a obra não cumpriu o que prometia. Segundo consta, existe licenciamento ambiental autorizando o empreendimento. Cumpre citar que licenciamento ambiental NÃO É a mesma coisa que Estudo de Impacto Ambiental. O primeiro apenas autoriza a execução de uma obra que cumpra parâmetros básicos constantes na legislação pertinente. O segundo demanda trabalho técnico elaborado com extrema competência e atenção para estudar todas as possíveis alterações que possam resultar na execução da obra em questão.  O fato é que apenas 4 meses depois da entrega da tal obra para a comunidade, o rio volta a apresentar os mesmos problemas existentes antes de sofrer a interferência.
O estudo de impacto ambiental mapeia e cataloga espécies e espécimes endêmicas, sejam vegetais e animais. Estuda a alteração de direção de cursos d’água, ação e direção das correntes marítimas sobre a costa limítrofe e diretamente sobre a desembocadura do rio. Estuda como será alterada a salinidade do rio em questão quando se realiza um alargamento e aprofundamento mecânico da foz de um rio em contato com o mar. Estuda toda a mecânica das águas com simulações e cálculos onde o encontro da água doce com a água salgada muda completamente conforme se altera a configuração da jusante de um curso d’água. Enfim, estuda tudo que possa de alguma forma criar alguma alteração que afete negativamente o elemento em questão.
A motivação emocional nunca pode se sobrepor ao diagnóstico técnico, ecológico e ambiental bem embasado numa obra desse porte, com risco de que sejam criados mais outros problemas que soluções definitivas. Ficando bem claro que mesmo na natureza não existem soluções definitivas. No caso em questão além do gasto desnecessário de recursos públicos vemos que a execução equivocada de um projeto está a gerar conflitos e outras ideias ainda mais estapafúrdias. Agora até se comenta de realizar mais um pavoroso molhe de contenção na margem sul do Rio Itajuba. Ou seja: Não estamos mais interessados no rio. O rio atualmente virou um incômodo. De repente passou de herói a vilão. Não satisfeitos em destruir uma das margens agora está se cogitando destruir a outra margem também. Quanto mais se altera a configuração inicial de uma beleza natural existente, mais se destrói esta mesma beleza. Até então tínhamos um lindo rio com uma bela praia na sua margem esquerda (norte).  Bela formação de pedras com visão privilegiada do costão ali existente. Vegetação nativa em ambas as margens. Rio limpo convidando ao banho e contemplação.
Rio Itajuba após um dia de enchente

Foz do Rio Itajuba fechada pelo baixo volume de água

Abrindo a foz do rio com máquina
A deposição de grande quantidade de areia na margem sul não acontece por acaso. A alteração no fluxo das marés, a diminuição da vazão do volume de água, a construção do molhe de contenção na margem norte, a intensa quantidade de detritos levados para dentro do rio com as chuvas também são coadjuvantes nesse processo. As alterações apresentadas acabam por mudar a topografia e geografia das praias vizinhas, haja vista a própria Praia das Pedras Brancas e também a Praia do Grant que já apresentam processos erosivos graves. Ou seja, além de estarmos destruindo o rio, aproveitamos para degradar tudo que nos cerca.
O futuro do Rio Itajuba está em nossas mãos. Estamos optando por ter um rio sujo, poluído, com margens socadas de pedras disformes, praia com alteração de ondas, interferindo até na sua utilização para esportes, destruição das remanescentes matas ciliares com construções e atracadouros de embarcações, ocupação irregular com farto despejamento de esgotos. Que fique bem claro que o Rio Itajuba pode servir a todos, pescadores, turistas e moradores em geral de forma correta. Utilizar um rio de forma sustentável e inteligente vai atender a todos que tenham contato com ele.
Canal do Rio já assoreado após a construção de um molhe de contenção

Obras mal feitas servem apenas para desperdício de verbas públicas
Para solucionar a questão não precisamos de obras milagrosas. Realizar planejamento adequado, com pessoas comprometidas e capacitadas a executar a verdadeira recuperação do Rio Itajuba não é difícil. Não podemos mais executar ações baseadas em “achismos”. Alterar de forma torpe algo que a natureza tão sabiamente nos oferece é perda de tempo e recursos. Deixar o orgulho e a soberba preponderarem quando o que precisamos é união em torno de uma beleza natural já tão afetada por atitudes e desastrosas não é sabedoria. Vamos salvar o Rio Itajuba?