Marés


O Brasil possui 9.198 km de linha de costa compreendida desde o Cabo Orange no estado do Amapá até o Arroio Chuí no Rio Grande do Sul. Nesses quase 10 mil km estão incluídas todas as saliências e reentrâncias como falésias, praias, dunas, mangues, restingas, promontórios, recifes e baías.
Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 26,6% da população brasileira vive em cidades litorâneas perfazendo uma soma de aproximadamente 51 milhões de pessoas distribuídas em 463 cidades do total de 5.565 existentes no país. Sabendo disso concluímos que a densidade populacional localizada às margens do Oceano Atlântico é bem superior a qualquer outra área no Brasil. Este fato avoluma-se ainda mais na época das férias e feriados quando moradores de áreas não litorâneas deslocam-se ao litoral em busca de lazer e descanso.
Porque esses dados são tão importantes? Porque todas essas pessoas, moradores fixos ou visitantes são diretamente influenciados pela ação das marés. As marés já tão cantadas em versos e prosas são as mudanças periódicas de nível das águas oceânicas influenciadas diretamente pela proximidade do Sol e da Lua em relação à Terra. A alternância de marés alta (preamar) e maré baixa (baixa mar) ocorrem a cada 6 horas sendo duas marés altas e duas marés baixas a cada 24 horas.

As marés influenciam no rendimento da pesca costeira, movimentação de carga e transporte em portos, estuários, deltas e baías, chegada de navios de turismo, entre outras atividades obrigando ao acompanhamento preciso de sua amplitude a fim de minimizar problemas de logística ou até acidentes com embarcações dos mais variados tipos. Outro fato a ser levado em consideração é a questão da elevação das marés em épocas com muitas chuvas na região costeira, fatos que somados produzem alagamentos e muitos transtornos. Os efeitos das marés sobre a costa recebem grande influência dos ventos onde suas consequências serão potencializadas em casos extremos como furações e tempestades.
Basicamente as marés recebem dois nomes: Maré de Quadratura e Maré de Sizígia. A Maré de Quadratura são as marés com menor amplitude, ou seja; pequena diferença entre a maré alta e a maré baixa, ocorrendo sempre durante as fases da Lua Minguante e Crescente. Ao contrário, a Maré de Sizígia implica em grandes diferenças de amplitude entre a Maré Alta e Baixa, ocorrendo nas fases da Lua Cheia e Nova. O potencial da Maré de Sizígia também é ampliado muito em regiões mais próximas à Linha do Equador, propiciando diferenças de amplitude que podem chegar a 8 metros, como pude presenciar na cidade de São Luis capital do Maranhão.
Maré alta em São Luis - Maranhão

Maré baixa ou seca em São Luis - Maranhão
A Maré de Sizígia tem seu fenômeno associado ao alinhamento geométrico do Sol com a Lua, e dessa forma seus campos gravitacionais se somam atraindo as enormes massas de águas oceânicas para certas localidades específicas. No caso específico do Porto de São Luis no Maranhão, que também é banhado pela foz do Rio Anil a diferença das marés permite ou não a navegação e atracar navios de até 400 mil toneladas no Cais da Praia Grande.  
Outro fato indispensável a levar em conta com o movimento das marés é a ocupação urbana. Com o passar dos anos a crescente expansão imobiliária tem levado ao perigoso fato da ocupação perigosa de áreas sujeitas a ação das marés. Algumas dessas áreas, pelo fato de não terem sido muito atingidas pela variação das marés nos últimos anos, acabam sendo invadidas e ocupadas por construções que ignoram a real possibilidade de uma possível retomada de espaços pelas marés. Existem legislações específicas como a Lei 7.661/88 e o Decreto 5.300/04 que normatizam a ocupação desses espaços. Juntamente com elas existe o Projeto Orla que norteia o gerenciamento da nossa costa, com o principal intuito de promover a harmonia entre todos atores que são afetados por áreas de marinha.( Vejam edição nº 116 –Folha Parati)

Os crescentes incrementos dos efeitos de tempestades e mudanças climáticas começam a ter importância para todos os habitantes principalmente os localizados em áreas de influência de oceanos e marés. A real possibilidade de sermos atingidos por algum evento de maiores proporções não é apenas alarmismo, mas possibilidade real. Marés intensas e recorrentes em diversos locais da nossa costa nos dão a sinalização de que mudanças significativas estão acontecendo. Dar espaço para que a natureza consiga se manifestar não é apenas sinal de sabedoria, mas questão de sobrevivência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário