Nem sempre o assunto de preservação ambiental é agradável de
ser tratado e nesse caso específico, a questão das águas servidas ou esgoto é
um assunto desagradável e literalmente fétido.
Durante décadas, séculos o ser humano civilizado sempre
desprezou o tema, tratando-o como assunto secundário afinal politicamente rende
muito pouco e de forma prática é um assunto de grande complexidade e solução
relativamente difícil. Dessa forma passamos a desenvolver políticas de esconder
o problema, literalmente enterrando-o bem sob os nossos narizes que não
aguentam mais as emanações fétidas.
O esgotamento sanitário doméstico é um dos maiores problemas
que afetam o nosso planeta. Cada vez mais gente habita a face da Terra e todos
produzimos resíduos. As concentrações urbanas cada fez maiores e sem devido
planejamento agravam o problema ainda mais, e os poderes públicos instituídos
pouco ou nada fazem para resolver definitivamente esta questão. Segundo dados
divulgados do IBGE, apenas 44% dos 58 milhões de domicílios do país, estão
ligados a rede coletora de esgotos. Os restantes 56% simplesmente despejam seus
esgotos em qualquer lugar contaminando rios e lençol freático. Pior, apenas
28,5% dos municípios fazem algum tratamento desses esgotos coletados. Ou seja;
é ainda pior coletar e nada fazer com esses rios de esgoto subterrâneo, apenas
canalizando a sujeira para longe!

Nossa cidade de Barra Velha faz parte deste triste cenário de
abandono, pois hoje contando com uma população estimada ao redor dos 30.000
habitantes, mas não possui nem um único metro de rede coletora de esgoto e
muito menos uma estação de tratamento de efluentes e resíduos domiciliares.
Triste realidade numa cidade litorânea e naturalmente turística aonde todo o
esgoto despejado em valas e rios rapidamente chega ao mar bem em frente as
nossas casas. Vemos diariamente na orla da cidade de Barra Velha dezenas de
tubulações despejando esgoto diretamente na areia das praias produzindo as detestáveis,
porém já famosas “línguas negras”. Rios como o Cancela, Veludo e Itajuba hoje
são uma grande fossa séptica a céu aberto onde a grande maioria dos habitantes
despeja seu esgoto de forma clandestina e criminosa.
Desde o ano de 2007 existe a Lei Federal n° 11.445 que trata
sobre o tema dando as normativas legais a serem adotadas e rigidamente
cumpridas, mas nosso país pouca importância dá as leis ou ao bom senso.
Especificamente as cidades da nossa região pouca importância dão ao assunto,
delegando as responsabilidades a empresas, autarquias ou consórcios
intermunicipais que com a habitual morosidade da máquina pública produzem ações
incipientes e paliativas. Muitos países desenvolvidos e com poucos recursos
hídricos naturais desenvolveram e já utilizam tecnologias avançadas de
tratamento de esgoto, inclusive permitindo a sua reutilização como água
potável. De outro lado o Brasil com a sua imensidão de disponibilidade de água
na forma de rios, lagos e praias, a tudo contamina com o despejo indiscriminado
de seus dejetos.
Recentemente foi aprovada no município de Barra Velha a
gestão do saneamento básico a uma empresa de economia mista e foi delegada a
esta empresa a responsabilidade de executar os planos de gerenciamento sobre
abastecimento e esgotamento sanitário. Novamente se vê a apatia e incompetência
do município na gestão desse serviço essencial empurrando o problema para
terceiros. Nesta semana que passou foi também realizada uma reunião aberta a
toda a comunidade na Prefeitura de Barra Velha. Construtoras, imobiliários e
demais interessados sobre o tema do esgotamento sanitário puderam participar da
explanação oferecida pelo Departamento de Vigilância Sanitária Municipal. Sabem
quantos participaram? Pouco mais de 20 pessoas, incluindo este articulista que
vos escreve! Não sei se é falta de informação ou falta de vontade popular, mas
que fique claro que o tema não teve a devida atenção que deveria ter visto a
sua importância e a que toda afeta de forma igual.
De qualquer forma faço um convite a você morador da orla de
sua cidade. Caminhe pelas praias e vizinhanças dos rios e valas do seu
município e veja pessoalmente onde está sendo despejado todo o esgoto da cidade
e veja qual a tua participação nesse processo. Convido a todos para a seguinte
reflexão: Onde você despeja seu esgoto? O que está sendo feito para acabar com
o problema? Estamos realmente interessados em acabar com o problema ou apenas
maquiar e esconder o nosso esgoto de cada dia com atitudes paliativas? Boa
semana a todos e até a próxima edição! Grande abraço.
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