Assim está ficando a Floresta Amazônica |
Há poucos dias retornei de uma viagem que fiz ao Peru. Morando
em Santa Catarina, poderia escolher diversos roteiros para atingir o meu
objetivo, que era a famosa Cordilheira Blanca, norte do Peru, quase divisa com o
Equador. Como já fui ao Peru alguns anos atrás pelo caminho mais curto - que é
cruzando a Bolívia, desta vez escolhi atravessar o Brasil todo subindo para o
norte. Atravessamos os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia
e finalmente o Acre, antes de adentrar o Peru.
Foram 4 dias de intensa rodagem percorrendo 4.300 km por
terras tupiniquins vendo inúmeras cidades e cada vez menos matas durante o
trajeto. Vivemos ainda uma ilusão de que do Mato Grosso do Sul-MS para cima em
direção ao norte iremos admirar a tão famosa Floresta Amazônica e sua
biodiversidade. A atual diversidade apresentada é de qual atividade do
agronegócio que se apresenta nas centenas de quilômetros que cruzamos nos 5
estados. A variação fica entre o cultivo do milho, soja, feijão, trigo, arroz,
amendoim e atividade pecuária com gado, suínos e aves.
Mais ao norte, já no Mato Grosso-MT, o panorama é um pouco
diferente onde os campeões de atividades são as culturas de soja e algodão,
sagrando-se campeão e produção em todo o Brasil. A pecuária bovina também está
como destaque no panorama nacional e também o extrativismo vegetal com ênfase
para a madeira (jacarandá, peroba, canela, angico-preto e jequitibá), borracha
e castanha-do-pará.
Pecuária em Rondônia onde havia floresta |
Chegando a Rondônia nos deparamos com imensas planícies de
campos ocupadas por bois e constatamos que a pecuária responde por 60% de tudo
que o estado exporta e o restante é preenchido por extrativismo vegetal e
mineral, este último contando com a exploração da cassiterita (estanho) sendo o
2° maior produtor do Brasil. E assim chegamos ao Acre. Sim, o Acre existe, e a
campeã disparada de atividade econômica do estado é a exploração,
beneficiamento e exportação de madeira, respondendo por nada menos do que 76% de
tudo que o estado produz! Madeira! Nativa, cortada e vendida sem critérios e
sem plano de manejo.
Por que citei todos esses dados? Apenas como fonte de
informação para vermos o que está acontecendo com as nossas outrora florestas
tropicais antes tão famosas, hoje em rápido processo de extinção. Percorrem-se
centenas e centenas de quilômetros por estradas asfaltadas e não se vê mais um
palmo da Floresta Amazônica. Os espaços antes ocupados pela diversidade vegetal
natural da qual tanto nos orgulhávamos agora são preenchidos por campos de
pastagens a perder de vista onde os destaques que chamam a atenção são as
solitárias castanheiras (Bertholletia excelsa) que, por força da Lei 6895/2006, estão imunes a sua supressão e corte. São visões tristes onde convivendo com o
devastador desmatamento para fins pecuários enxergam-se as solitárias
sobreviventes do que antes era uma exuberante floresta.
Castanheira solitária perdendo espaço para a soja |
Que fique bem claro que as atividades extrativistas e
pecuárias da região destinam quase a totalidade de sua produção para a
exportação, sendo os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, campeões em
produtividade na soja e na carne bovina que é exportada para a Europa, Ásia e
Oriente Médio. A destruição das florestas centenárias utiliza métodos ainda
mais primitivos, quando enormes correntões tracionados por tratores derrubam
absolutamente tudo que encontram pela frente. Depois da passagem dos
correntões, vêm os madeireiros que cortam e beneficiam a madeira e o que não
tem valor comercial simplesmente é queimado gerando as enormes nuvens de
poluentes. Depois planta-se capim e pastagem e soltam-se milhares de cabeças de
gado que irão alimentar milhões de pessoas em todo mundo. Ainda tem o custo do gás
metano produzido pelas fezes animais que tem seu efeito multiplicado já que a
floresta que antes poderia purificar o ar foi cortada e não realiza mais essa
indispensável tarefa.
Floresta Amazônica queimada sendo transformada em "agronegócio" |
Não sou simplista na afirmação de que o agronegócio é
prejudicial ao Brasil. Afirmo com toda propriedade que o tão festejado
agronegócio praticado no Brasil está devastando o meio-ambiente com danos e
consequências irreversíveis à população. A produção agrícola e pecuária
praticada de forma selvagem no Brasil produz o fenômeno de exaurir o solo,
tornando-o infértil e estéril após alguns anos de utilização. A produção e
extração de alimentos necessários à sobrevivência podem seguir critérios
corretos de forma a não mais avançar sobre áreas nativas que são indispensáveis
ao equilíbrio e recomposição da qualidade de vida. Só para exemplificar: antes
o intenso calor existente em áreas limítrofes às florestas era amenizado pelas
árvores e umidade de rios e do solo. Hoje as cidades da região norte do nosso
país sofrem grandemente com temperaturas elevadas e falta de água em parte do
ano diminuindo o conforto e qualidade de vida que havia antes. Sim, a capital
do Acre, Rio Branco, passa períodos de estiagem onde os rios quase secam! Transformar
floresta em dinheiro não é sabedoria, pois em pouco tempo não haverá mais
florestas para serem trocadas por confortos e luxos supérfluos.
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