Edificação sobre o Rio Itajuba-Barra Velha-SC |
Não é novidade para ninguém que os
problemas relacionados ao Meio Ambiente aumentam a cada dia que passa. O fato
poderia até ser encarado como natural visto que a população aumenta e com ela
aumenta proporcionalmente a produção de lixo, esgotos e resíduos sólidos em
geral. O que chama a atenção para o tema é o descaso com que a questão
ambiental está sendo relegada a um plano inferior, onde se prioriza o
crescimento desordenado da cidade e onde se usa como justificativa a
desnecessária necessidade da cidade atrair investimentos na expansão
imobiliária.
Que fique bem claro que esta visão
míope e equivocada não é exclusividade de Barra Velha. Cidades vizinhas como
Balneário Piçarras, Araquari, Balneário Barra do Sul também são acometidas
dessa escolha deturpada de investimento. Estas cidades são mais afetadas por
serem cidades litorâneas então mais visadas para edificações e opções
turísticas de temporada ou férias. Outras como Luis Alves, São João do Itaperiu
entre as mais próximas também sofrem com o mau planejamento estratégico
ambiental que está se tornando uma doença crônica. Mas de qualquer forma o título do texto pode incluir qualquer cidade brasileira.
Lixo depositado as margens do rio |
Com exceção da cidade de Balneário
Piçarras, nenhuma outra citada tem executado ações ordenadas de coleta, tratamento
e destinação final de esgotos. Idem para a coleta, tratamento, reciclagem e
destinação final de resíduos sólidos e lixo em geral. O que se vê em todas elas
é a busca desenfreada por parte de Poderes Executivos Municipais em promover o
crescimento de edificações, de preferência com muitos pavimentos de forma a
garantir um aumento expressivo na arrecadação tributária de impostos. Não se vê
nenhum esforço no sentido de promover correta aplicação das Políticas Públicas
de Resíduos Sólidos e muito menos de Saneamento e Esgotamento Sanitário
adequado. A PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) (Lei 12.305/2010) teve
como data limite o dia 02 de agosto de 2014 e menos da metade dos municípios
brasileiros executou alguma parte dessa lei.
Entulho despejado no leito do rio |
Só para ilustrar, a poucos dias em
algumas sessões na Câmara de vereadores de Barra Velha, foram discutidas e
aprovadas indicações para poda de vegetação de mangue localizada às margens de
alguns rios da cidade e também da retificação (reconfiguração) do leito do Rio
Veludo no centro da cidade.
No primeiro caso que fique bem clara
a justificativa dada para a agressão a este bioma; permitir que a água flua com
mais facilidade eliminando possíveis locais onde o lixo e outros detritos
fiquem agarrados a esta vegetação. Esta justificativa por si só já é absolutamente
descabida, pois se coloca a culpa pela dificuldade no escoamento da água na
vegetação e não no lixo e entulhos atirados no leito e margens fluviais. Outra
coisa que deve ficar bem clara é o descumprimento da Lei Federal 12.651/2012
que proíbe a supressão desse e de outros tipos de vegetação em APP (Áreas de
Preservação Permanente) que é o caso de todos os cursos d’água como riachos,
rios, córregos e lagoas.
Retificação do curso de um rio |
No segundo caso, a retificação de um
curso d’água também é ilegal porque altera áreas de reserva e proteção
permanente conforme determina a Lei Federal 12.727/2012 que dá as normativas e
delimita a utilização de margens e distâncias a serem respeitadas para ocupação
urbana ou rural. Outro fato a não esquecer é que sabidamente a retificação do
curso de um rio sempre produzirá alagamentos e transtornos para as regiões
vizinhas a esta interferência. Caso conhecido de todos em Barra Velha é a
malfadada retificação do Rio Itajuba entre as ruas Evaristo Lopes Dutra e Arnaldo
Tavares que desde sua alteração a pouco mais de 25 anos alaga muitas ruas e
casas que foram edificadas em locais originalmente ocupados pelo rio.
Esses dois exemplos acima citados
apenas demonstram o descolamento e distanciamento que os políticos têm em relação
às leis e a própria população em geral que na sua parcela mais esclarecida e
interessada no bem comum, defendem com vigor um meio ambiente sustentável e
legalizado. Uma política ambiental
sempre deve ser planejada a longo prazo pois seus efeitos serão duradouros e
muitas vezes irreversíveis. A
irresponsabilidade no trato ambiental não é monopólio dos políticos
despreparados do nosso município. O Brasil todo padece com verdadeiros
criminosos travestidos em gestores e legisladores, quando observamos o
assustador aumento da devastação de todos os biomas como Mata Atlântica,
Cerrado, Pantanal, Amazônia e outros. Hoje apenas 8,5% da área de Mata
Atlântica original ainda resistem, sendo o bioma mais ameaçado no Brasil
segundos dado do INPE (instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) realizados
até 2014.
Em verde as áreas remanescentes de mata Atlântica em SC |
Lamentar e contemporizar os
descalabros praticados nas questões ambientais é pouco diante do silêncio e
conivência de legisladores e judiciário no Brasil. A falta de cultura e
informação da população somadas ao desinteresse e apatia acabam por perpetuar e
multiplicar a representatividade nefasta existente em todas as esferas dos
poderes executivos e legislativos sejam federais, estaduais e principalmente
municipais. Urge que as leis por piores que existam, sejam cumpridas. Uma
sociedade somente conseguirá sobreviver dignamente com qualidade de vida quando
todos cumprirem seus papeis de forma legal e respeitosa. Escolher e eleger
representantes minimamente preparados seria um bom início, que lamentavelmente
ainda não aconteceu!
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