terça-feira, 11 de abril de 2017

A Lagoa de Barra Velha

Barra Velha com vista para a Laguna
Que o litoral catarinense é pródigo em belas paisagens e vistas deslumbrantes ninguém tem dúvidas.  São 561 km de extensão de praias, falésias, dunas, baías, restingas, desembocaduras, lagoas e lagunas e tudo mais que são tão característicos da nossa região. A diversidade da geografia litorânea catarinense é imensa, e especificamente Barra Velha foi contemplada pela natureza com ótimas opções de praias e orla marítima.
Já relatamos em edição anterior do Folha Parati (Edição nº  158) sobre a exuberante formação geológica da Praia de Pedras Brancas e Negras. Hoje destaco a Lagoa de Barra Velha. Localizada no nordeste do Município de Barra Velha, tem 5.800 m de comprimento localizados em Barra Velha e mais 5.700 m localizada no vizinho Município de Barra do Sul.
Localização da Laguna de Barra Velha pelo Google Earth
A história recente registra o descobrimento desse destaque geográfico como ocorrido no século XVI ao redor de 1504, portanto contemporâneo ao descobrimento e colonização da região de São Francisco do Sul (1503-1553) quando o capitão Binot Paulmier de Gonneville e sua expedição aportaram vindos da França. Sem comprovação efetiva, existem relatos do ingresso de Gonneville pelo estuário do atual Rio Itapocu onde hoje estão localizadas as barras dos municípios de Barra Velha e Barra do Sul. De outra forma, já comprovadas são as expedições do navegador português Aleixo Garcia ( ?? – 1525) que ao redor de 1520 explorou o litoral norte de Santa Catarina, tendo suas rotas seguidas e aumentadas por Cabeza de Vaca.
Álvar Núñes-Cabeza de Vaca navegador e explorador espanhol a serviço da Coroa Espanhola adentrou a foz do Rio Itapocu em novembro de 1541 com destino aos Andes e Oceano Pacífico, tendo com isso descoberto em janeiro de 1542 as Cataratas do Iguaçu no Paraná e também grande parte do famoso Caminho do Peabiru.

A formação geológica das lagoas de Barra Velha e de Barra do Sul é muito anterior às conquistas de territórios e disputas por continentes pelos espanhóis, franceses, holandeses, ingleses e portugueses nos séculos XIV, XV, XVI e XVII. Nossa costa e regiões limítrofes tiveram sua formação como conhecemos hoje, ainda no Período Holocênico ( 12.000 anos atrás) perto do fim da última Era Glacial ou Era do Gelo, portanto relativamente jovens se formos comparar com o Planalto Catarinense (Paleozóico-550 milhões de anos). Nessa época com a deposição de sedimentos vindos das regiões mais altas e como resultantes de ações erosivas do oceano e chuvas, as praias foram formadas e consequentemente a Lagoa de Barra Velha. A desembocadura do Rio Itapocu (Pedra Comprida em Tupi-Guarani) acabou formando-se nos sentidos sul e norte de forma homogênea pelas características de vazão do próprio rio. Sendo um rio de planície costeira, suas águas desenvolvem pequena velocidade de escoamento e dessa forma enfrentando as fortes correntes marítimas ora a sul ora a norte proporcionaram a formação de bolsões de água salobra em ambos os sentidos.
Foz do Rio Itapocu com a Laguna de Barra Velha no encontro com o mar
Tecnicamente falando a “lagoa” de Barra Velha NÃO é uma lagoa! Geologicamente falando trata-se de uma laguna por ter algum tipo de ligação com o oceano, fato comprovado na foz do Rio Itapocu. Uma lagoa ou lago é uma porção de água circundada de terras mais altas em toda a sua volta.  Tecnicidades mantidas, a característica da Laguna de Barra Velha tem pelos motivos acima apresentados uma pequena profundidade visto que na maré alta sua profundidade máxima não atinge mais de 2,5 metros. Com largura variando ao redor dos 200m podemos então calcular uma capacidade volumétrica aproximada de 2,79 milhões de metros cúbicos de água ou 2,7 bilhões de litros de água.
A capacidade volumétrica bem como a balneabilidade da laguna de Barra Velha tem sido drasticamente alterada nas últimas décadas, seja pelo natural assoreamento causado pela deposição de sedimentos arrastados pelas chuvas, ou seja, pelo despejamento de esgotos motivado por práticas irresponsáveis de gestão ambiental.  A grande quantidade de edificações erigidas nas margens somada ao mau uso do parcelamento do solo e práticas ilegais no mau trato com resíduos tem contribuído para transformar a outrora linda laguna em local não recomendado. A drenagem de terras limítrofes com a utilização de tubos e valetões aumentam a cada dia a deposição de areia e terra no leito da laguna, diminuindo a profundidade da mesma.

A pouco mais de duas décadas a laguna servia como praia de água doce muito bem frequentada e local de desportos aquáticos. A pesca era abundante atraindo muitos para o local. Hoje o desleixo apresentado proporciona o afastamento de contato com suas águas que a cada dia exalam os odores típicos provenientes de esgotamento sanitário.  Fala-se muito em desassoreamento do leito da laguna, mas pouco na extinção de despejamento ilegal e irregular de esgotos no seu leito. O que antes era um atrativo diferencial e que até batizou a cidade, agora se transformou num enorme problema. A antiga barra velha do Rio Itapocu, localizada bem no início da atual Praia da Península na Rua Armando Petrelli também não mais existe, descaracterizando o próprio nome da cidade.
O fato é que urgentemente a comunidade e poder público precisam se unir sem politicagens e sem “achismos” mas de forma transparente e técnica em torno da Laguna/Lagoa de Barra Velha, antes que ela literalmente desapareça sob o manto da irresponsabilidade no trato ambiental. Todos ganharão com isso. Pelo bem de Barra Velha!

 
Vista aérea da Laguna de Barra Velha e a Rua Armando Petrelli

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