Barra Velha com vista para a Laguna |
Que o litoral catarinense é pródigo
em belas paisagens e vistas deslumbrantes ninguém tem dúvidas. São 561 km de extensão de praias, falésias,
dunas, baías, restingas, desembocaduras, lagoas e lagunas e tudo mais que são
tão característicos da nossa região. A diversidade da geografia litorânea
catarinense é imensa, e especificamente Barra Velha foi contemplada pela natureza
com ótimas opções de praias e orla marítima.
Já relatamos em edição anterior do
Folha Parati (Edição nº 158) sobre a
exuberante formação geológica da Praia de Pedras Brancas e Negras. Hoje destaco
a Lagoa de Barra Velha. Localizada no nordeste do Município de Barra Velha, tem
5.800 m de comprimento localizados em Barra Velha e mais 5.700 m localizada no vizinho
Município de Barra do Sul.
Localização da Laguna de Barra Velha pelo Google Earth |
A história recente registra o
descobrimento desse destaque geográfico como ocorrido no século XVI ao redor de
1504, portanto contemporâneo ao descobrimento e colonização da região de São
Francisco do Sul (1503-1553) quando o capitão Binot Paulmier de Gonneville
e sua expedição aportaram vindos da França. Sem comprovação efetiva, existem
relatos do ingresso de Gonneville pelo estuário do atual Rio Itapocu onde hoje
estão localizadas as barras dos municípios de Barra Velha e Barra do Sul. De
outra forma, já comprovadas são as expedições do navegador português Aleixo
Garcia ( ?? – 1525) que ao redor de 1520 explorou o litoral norte de Santa
Catarina, tendo suas rotas seguidas e aumentadas por Cabeza de Vaca.
Álvar Núñes-Cabeza de Vaca navegador
e explorador espanhol a serviço da Coroa Espanhola adentrou a foz do Rio
Itapocu em novembro de 1541 com destino aos Andes e Oceano Pacífico, tendo com
isso descoberto em janeiro de 1542 as Cataratas do Iguaçu no Paraná e também
grande parte do famoso Caminho do Peabiru.
A formação geológica das lagoas de
Barra Velha e de Barra do Sul é muito anterior às conquistas de territórios e
disputas por continentes pelos espanhóis, franceses, holandeses, ingleses e
portugueses nos séculos XIV, XV, XVI e XVII. Nossa costa e regiões limítrofes
tiveram sua formação como conhecemos hoje, ainda no Período Holocênico ( 12.000
anos atrás) perto do fim da última Era Glacial ou Era do Gelo, portanto
relativamente jovens se formos comparar com o Planalto Catarinense (Paleozóico-550
milhões de anos). Nessa época com a deposição de sedimentos vindos das regiões
mais altas e como resultantes de ações erosivas do oceano e chuvas, as praias
foram formadas e consequentemente a Lagoa de Barra Velha. A desembocadura do
Rio Itapocu (Pedra Comprida em Tupi-Guarani) acabou formando-se nos sentidos
sul e norte de forma homogênea pelas características de vazão do próprio rio.
Sendo um rio de planície costeira, suas águas desenvolvem pequena velocidade de
escoamento e dessa forma enfrentando as fortes correntes marítimas ora a sul
ora a norte proporcionaram a formação de bolsões de água salobra em ambos os
sentidos.
Foz do Rio Itapocu com a Laguna de Barra Velha no encontro com o mar |
Tecnicamente falando a “lagoa” de
Barra Velha NÃO é uma lagoa! Geologicamente falando trata-se de uma laguna por
ter algum tipo de ligação com o oceano, fato comprovado na foz do Rio Itapocu.
Uma lagoa ou lago é uma porção de água circundada de terras mais altas em toda
a sua volta. Tecnicidades mantidas, a
característica da Laguna de Barra Velha tem pelos motivos acima apresentados
uma pequena profundidade visto que na maré alta sua profundidade máxima não
atinge mais de 2,5 metros. Com largura variando ao redor dos 200m podemos então
calcular uma capacidade volumétrica aproximada de 2,79 milhões de metros
cúbicos de água ou 2,7 bilhões de litros de água.
A capacidade volumétrica bem como a
balneabilidade da laguna de Barra Velha tem sido drasticamente alterada nas
últimas décadas, seja pelo natural assoreamento causado pela deposição de
sedimentos arrastados pelas chuvas, ou seja, pelo despejamento de esgotos
motivado por práticas irresponsáveis de gestão ambiental. A grande quantidade de edificações erigidas
nas margens somada ao mau uso do parcelamento do solo e práticas ilegais no mau
trato com resíduos tem contribuído para transformar a outrora linda laguna em
local não recomendado. A drenagem de terras limítrofes com a utilização de
tubos e valetões aumentam a cada dia a deposição de areia e terra no leito da
laguna, diminuindo a profundidade da mesma.
A pouco mais de duas décadas a laguna
servia como praia de água doce muito bem frequentada e local de desportos
aquáticos. A pesca era abundante atraindo muitos para o local. Hoje o desleixo
apresentado proporciona o afastamento de contato com suas águas que a cada dia
exalam os odores típicos provenientes de esgotamento sanitário. Fala-se muito em desassoreamento do leito da
laguna, mas pouco na extinção de despejamento ilegal e irregular de esgotos no
seu leito. O que antes era um atrativo diferencial e que até batizou a cidade,
agora se transformou num enorme problema. A antiga barra velha do Rio Itapocu,
localizada bem no início da atual Praia da Península na Rua Armando Petrelli
também não mais existe, descaracterizando o próprio nome da cidade.
O fato é que urgentemente a
comunidade e poder público precisam se unir sem politicagens e sem “achismos”
mas de forma transparente e técnica em torno da Laguna/Lagoa de Barra Velha,
antes que ela literalmente desapareça sob o manto da irresponsabilidade no
trato ambiental. Todos ganharão com isso. Pelo bem de Barra Velha!
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