Há décadas que se fala em todas a notícias que o Brasil é um país do futuro. Eu, pessoalmente, ouço isso desde criança, em pleno regime militar. Naquela época até que muitas obras de infraestrutura foram feitas, mas a um custo ambiental e social que hoje estamos pagando muito caro.
Um país de futuro só pode se projetar num futuro promissor se tiver planejamento a longo prazo, coisa quase inexistente no Brasil. Por aqui as obras são executadas quase sempre de forma emergencial e quando elas ficam finalmente prontas, já estão subdimensionadas ou ultrapassadas. Um bom exemplo disso são as famosas duplicações de rodovias. Como inicialmente elas já foram feitas de qualquer jeito, as duplicações acabam por acontecer quando já não são mais suficientes principalmente pela imensa demora na execução dos projetos.
No Brasil temos obras como a Ferrovia Norte-Sul que no seu projeto inicial deveria ligar a cidade de Belém-Pará à cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Sua extensão originalmente planejada seria de 4.155 km, mas até hoje aproximadamente 1.200 km foram executados. Isso que estamos falando do início das obras no ano de 1986 quando as primeiras obras iniciaram na cidade de Açailândia, no estado do Maranhão, ainda no governo do então presidente José Sarney. Hoje, quase 20 anos passados e muitos bilhões gastos, ela não funciona e pequenos trechos são executados a custos astronômicos. Um exemplo disso é a recente licitação entre as cidades de Anápolis - em Goiás, e a cidade de Porto Nacional do Tocantins, em um trecho com 855 km custará inicialmente a bagatela de R$ 4,2 bilhões. Significa R$ 4.923.976,50 por quilômetro de trilhos colocados e NÃO FUNCIONANDO!
Outra pérola de projeto é a famosa transposição do Rio São Francisco! O projeto inicialmente chamado de Integração/Transposição do Rio São Francisco foi elaborado ainda no ano de 1982, pelo extinto DNOS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) pelo então governo do Presidente João Batista Figueiredo. Hoje, 34 anos depois, apenas 60,6% das obras foram executadas do total dos 700 km previstos inicialmente, segundo o Ministério da Integração Nacional , a um custo inicial de R$ 8,5 bilhões. Além de sucessivos reajustes no orçamento inicial, a obra é polêmica, pois desvia água do Rio São Francisco para irrigação e consumo humano, diminuindo ainda mais a vazão já comprometida do rio em diversos trechos!
Inúmeras outras obras como duplicação da BR-101, BR-116, pontes, represas, açudes, portos, etc, são planejados e orçados sem critérios e sem estudos adequados de viabilidade técnica e custo benefício. Vemos que não importando que governa o país, pouco valor se dá a planejamentos estratégicos de longo prazo no Brasil. Na maioria das vezes as obras executadas tem apenas fins de visibilidade eleitoreira onde o então governante quer ser lembrado para a posteridade pela inauguração da obra no seu mandato. Vemos casos esdrúxulos de obras sendo inauguradas diversas vezes, ou então inaugurações de pequenos trechos apenas para que isso conste no currículo do então governante.
Obras que são promessas já viraram lendas no Brasil como mais recentemente as também polêmicas obras da Copa do Mundo! Como não citar a mundialmente conhecida ( e inacabada) Rodovia Trans-Amazônica (BR-230) que iniciada no longínquo ano de 1972 no governo Médici, até hoje não foi concluída na sua extensão de 4223 km interligando 7 estados de leste a oeste.O projeto inicial era de quase 8.000 km ligando o litoral brasileiro até o litoral do Peru. Sucessivas reduções acabaram por encurtar a famosa rodovia e hoje ela "acaba" na cidade de Lábrea, no estado do Amazonas, quase chegando ao Acre.
Por que cito estes exemplos aqui? Para ilustrar que as promessas se sucedem governo após governo e nada muda na forma de executar e planejar adequadamente. Estes problemas estruturais não são prerrogativa do governo federal. Os governos estaduais e municipais repetem exatamente os mesmos erros de (falta) planejamento.
Atualmente passamos por problemas de falta de abastecimento de água em cidades de maior porte como São Paulo e Belo Horizonte. Sinto dizer, mas a culpa não é de São Pedro e da falta de chuvas. Esse problema só tende a se agravar cada vez mais pela falta de planejamento em infraestrutura, pois a demanda por serviços essenciais aumenta a cada dia e não é acompanhada da oferta desses mesmos serviços. Planejamento a longo prazo significa projetar uma política pública que atenda a população para os próximos 50 ou 100 anos. Fazer obras emergenciais par 2, 4 ou 5 anos não resolve o problema , apenas empurra a sua solução para daqui a alguns anos.
Ver como é relegado a segundo plano o o planejamento urbano, a mobilidade das cidades, a falta de projetos sustentáveis coisas que acontecem diariamente com as recorrentes notícias de falência dos serviços públicos, congestionamentos, abastecimento d'água, e consequentemente uma queda gradativa da qualidade de vida ofertada a população.
De nada adianta morar numa cidade onde existe consumo comercial e industrial se as pessoas nessas cidades não conseguem ser felizes onde moram porque não são atendidas nas suas necessidades mais básicas. O planejamento estratégico é função dos governos instituídos e obrigatoriamente ser executado de forma que contemple todas as necessidades dos cidadãos.
A população não aguenta mais tantas promessas não cumpridas e ficar esperando que o país seja apenas lembrado como um país do futuro. O futuro acontece agora e vemos diversos países pelo mundo mudando estratégias e ações de forma a melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos. O Brasil ainda patina na incompetência e tolerância a tantos desvios e má gestão de recursos públicos.
Seremos sempre um país que espera ser de 1° mundo!! Afinal, o que é ser um país de 1° mundo?
Essa é fácil de responder: é ter QUALIDADE DE VIDA!! Mais nada. Todos estão cansados das eternas e não cumpridas promessas vindas de sucessivos governos não representativos e pouco atuantes e eficazes. Assim vamos sempre ficar apenas admirando outros países.
Planejamento é tudo! Ou então ficaremos sempre apenas nas promessas!!
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