Tenho o costume de observar as questões ambientais quando dos
meus deslocamentos em viagens e principalmente quando ando pelas ruas da cidade de Barra Velha onde moro. Nas últimas semanas uma coisa tem me chamado atenção. Tenho
notado com crescente preocupação observar um gradual aumento na ocorrência de
caramujos africanos em terrenos baldios e abandonados.
Só para que todos possam entender do que estou falando,
trata-se de um molusco que na década de 1980 foi trazido ao Brasil como uma
expectativa de alternativa econômica gastronômica ao escargot, delicatesse
da culinária francesa. Esse molusco foi introduzido inicialmente no Brasil de
forma ilegal por ocasião de uma feira agropecuária realizada no interior do
Paraná. Na segunda vez que ele tornou-se presente foi por um funcionário do
Porto de Santos que pretendia iniciar um criatório comercial desse molusco na
cidade de Praia Grande, litoral de São Paulo.
O Caramujo Gigante Africano (Achatina fulica) acabou se
tornando uma praga urbana e rural por motivo de sua comercialização não ter
tido sucesso no Brasil. Assim, os então produtores naquela época acabaram por
se desfazerem do seu plantel soltando-os na natureza de forma indiscriminada,
fato que culminou transformando-o caramujo em uma praga. Em áreas rurais não
houve expressivo aumento no aparecimento de mais indivíduos, mas nas cidades
nota-se cada vez mais o aumento deles ao redor das casas.
Estes caramujos quando adultos chegam a medir 10 cm de concha
pesando em torno de 100 g. Reproduzem-se de forma assexuada sendo hermafroditas,
ou seja, não necessitam parceiros para reprodução. Tem alto índice reprodutivo chegando a 5
posturas anuais com 100 a 500 ovos por postura.
Sua atividade aumenta na época das chuvas e intensa umidade bem como é
mais ativo e resistente durante o inverno. Busca se proteger durante o dia dos
raios solares que podem queimar suas mucosas saindo dos seus abrigos durante a
noite ou em dias nublados para alimentar-se e reproduzir-se.
O caramujo africano possui sua concha ou casca de coloração
marrom, cinza escuro ou levemente arroxeada com listas mais claras em tons
amarelos. Considerado em muitos países uma espécie invasora acaba tendo poucos
predadores mas segundo algumas observações feitas, em ambientes urbanos tem
sido predado pelo rato doméstico ou ratazanas. Em áreas rurais seus predadores
naturais são o gambá e algumas cobras come-lesmas o que explica a sua menor
incidência em áreas de matas e florestas preservadas.
O maior problema apresentado pelo caramujo africano é questão
de saúde pública pois apresenta a característica de transmissão para o ser
humano do verme Angiostrongylus cantonensis
causador da meningite, sendo o
hospedeiro natural e transmissor desse verme. Também transmite o verme Angiostrongylus
costaricensis que produz infestação abdominal por vermes de forma
bastante agressiva. O Caracol ou Caramujo Africano acaba se tornando um vetor
na transmissão da dengue e febre amarela sendo que estudos já comprovaram que
existe a deposição de ovos e larvas de mosquitos nas suas conchas vazias quando
da morte do indivíduo.
Desde 2003, o IBAMA decretou ilegal a sua criação e decretou
a extinção dessa espécie que além dos problemas apresentados para a saúde
humana ainda é altamente voraz chegando a destruir lavouras inteiras de
vegetais destinadas ao uso humano. Por incrível que pareça, quando criado de
forma controlada em viveiros com higiene, alimentação balanceada e demais
cuidados a sua carne é perfeitamente consumível e segundo informações que
recebi muito saborosa. Paladares à parte a recomendação é muito cuidado com o
manuseio dos espécimes que são encontrados na natureza estando contaminados e
impróprios ao consumo.
A forma mais eficiente no combate contra o caramujo africano
é inicialmente identificá-lo de forma correta para não ser confundido com
outras espécies naturais e nativas. O segundo passo é manuseá-los sempre com
luvas ou algum saco plástico descartável e aplicar sobre eles uma solução
concentrada de cloro ou sal. Muitas vezes temos o hábito de esmagá-los com um
sapato pisando sobre ele. Esse costume pode ser perigoso, pois os ovos do
caramujo podem aderir ao solado do calçado sendo espalhados e aumentando ainda
mais a contaminação. Não é recomendado utilizar produtos químicos como
pesticidas no controle do caramujo, pois além de pouco eficiente esse
procedimento ainda contamina o solo e o lençol freático e águas subterrâneas. O
método mais indicado é fazer a coleta dos espécimes e encaminhar a Secretarias
Municipais de Saúde e Vigilância Epidemiológica para o correto descarte,
podendo como alternativa colocar os moluscos em uma vala cavada no solo e
incinerá-los. Esse processo é o mais eficaz, pois controla e extermina todos os
ovos que ficam presos ao caramujo e às suas fezes.
Um detalhe muito importante é quanto ao consumo das
hortaliças domésticas que existem em locais onde o caramujo africano vive nas
cidades. A contaminação é muito alta nesse ponto quando o caramujo se alimenta
dessas hortaliças caseiras. Realizar uma higienização com cloro durante 15
minutos em molho e enxaguar com muita água limpa corrente é a chave para se
evitar problemas de saúde! O fato de que na nossa cidade estão aparecendo
muitos caramujos deve ser encarado com seriedade pelas autoridades sanitárias
locais. Todas essas fotos flagrei em ruas e logradouros de Barra Velha! Muito
cuidado então ao deparar-se com o temido Caramujo Africano!
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