quinta-feira, 5 de julho de 2018

A Ecologia Aplicada na Construção Civil




Cada dia que passa a população cresce. Somos hoje quase 8 bilhões de pessoas sobre a face da terra, e desses, bilhões todos, aproximadamente 207 milhões vivem no Brasil.
O Brasil é um país com densidade populacional relativamente baixa levando em consideração sua extensão territorial, mas apesar disso a grande maioria dessa população vive em casas e edifícios nas cidades. Fora dos grandes centros, as residências predominantes ainda são uni familiares e localizadas longe dos confortos e luxos aos quais a população urbana tem acesso.  Essas mesmas casas ainda são construídas na sua maioria de madeira ou argila. Materiais baratos e acessíveis à população que vive nessas regiões remotas como Amazônia e sertão nordestino.

Destruição de morro com vegetação para extração de saibro
Nas cidades a esmagadora maioria das residências é construída de alvenaria, tijolos, pedras e outros materiais nobres. Por falar nisso, você sabe o que significa alvenaria? A palavra alvenaria vem derivada da palavra alvenel = pedreiro, que tem sua origem na língua árabe. Alvenaria é a justaposição ou junção de materiais toscos (pedras, tijolos, areia, etc) de forma a com elas erguer paredes de forma estrutural.
Nas cidades ou regiões remotas o uso de materiais retirados da natureza com o objetivo de urbanização ou construções nem sempre segue metodologias ou materiais adequados, seja na sua composição seja na quantidade ou qualidade.  Todos os materiais utilizados na construção civil são retirados na sua forma bruta da natureza. As madeiras para caixarias, tábuas para paredes, areia, cimento, calcário, barro para tijolos. Com o recente advento e incremento cada vez maior por casas e moradias, o meio ambiente acaba sendo a primeira vítima das construções e edificações civis.

Aterramento de nascente com entulho da construção civil
Com exceção de algumas madeiras com origem certificada de reflorestamentos, a matéria prima utilizada nas construções sempre agride de alguma forma o equilíbrio ecológico. Pedras retiradas de pedreiras, cavas de areia retiradas dos rios, árvores cortadas para tábuas, portas e janelas,  ferro ou alumínio estrutural ou em esquadrias, cimento, água, enfim tudo que temos nas nossas casas foi suprimido da natureza de forma irremediável.  Encontrar um equilíbrio entre o uso correto e a não degradação do ambiente que nos rodeia é muito importante. Não desperdiçar, buscar alternativas sustentáveis, reutilizar reciclando materiais considerados inservíveis é um bom caminho.

Extração desordenada de areia dos rios
A tecnologia e a reutilização de materiais aplicados na construção civil também são bons caminhos para seguir de forma que não esgotemos as fontes de matéria prima. Hoje é muito raro encontrar alguns tipos de madeiras nobres que antes eram utilizadas nas estruturas de telhados e esquadrias.  Madeiras como imbuia, jacarandá, ipê, itaúba estão praticamente extintas pelo seu uso indiscriminado seja em móveis ou imóveis. As antigas técnicas de executar caixarias de madeira-estruturas que serão preenchidas com concreto-lentamente está sendo substituída por formas de metal reutilizáveis indefinidamente.
Um dos principais vilões no uso de matérias primas retiradas da natureza ainda é o desperdício e a falta de técnicas adequadas na execução de obras da construção civil. Cada prego, cada metro cúbico de areia desperdiçado, cada tijolo quebrado é custo ambiental e financeiro na execução de casas e prédios de apartamentos. O que ande engatinha no nosso país é a utilização de matéria prima reciclada nesses processos construtivos. É enorme a quantidade de entulho “inservível” resultante dos restos da construção civil que são depositados de forma irresponsável em terrenos abandonados, margens de rios e lagos e até em nascentes de cursos d’água. Maus exemplos como esses são facilmente observados na nossa cidade em todos os bairros.
Dessa forma a tão almejada construção pode tornar-se uma grande dor de cabeça. A legislação, tão deixada de lado, é bem clara com relação ao depósito de resíduos sólidos sem o devido cuidado e tratamento. Todo o processo legal sobre o tema está contemplado na PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) Lei Federal n° 12.305, onde as responsabilidades, penalidades e metodologias estão perfeitamente explicadas para que sejam cumpridas. Basta de achar que a responsabilidade de um construtor termina na entrega da obra. O poder público também se exime ou é leniente  quanto ao cumprimento das legislações ambientais no que tange a construção civil e suas obrigações pós-construção. Não basta haver algum rigor na permissão e expedição de licenças ambientais permissivas às construções. É necessário um rigor ainda mais contundente com os resíduos e descartes provenientes dos empreendimentos imobiliários construtivos.
Nosso país carece de moradias para o segmento populacional menos afortunado. Não seria essa a hora já tardiamente de que a legislação fosse aplicada e cumprida de forma a que todos possam ser beneficiados. A reciclagem e reutilização de materiais até então considerados “entulho” já é realidade em muitos países. Precisamos fazer o certo. Para o bem de todos.

Entulho de construção despejado a margem de um rio



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